Foto: Ricardo Vanini
Prestes a completar 233 anos de fundação, Vila Maria do Paraguai, assim denominada no seu início, passa na atualidade uma crise sem precedentes em sua história.
Fruto de disputa entre os reinos Luso ede Castela, justamente pela sua estratégica posição geopolítica, o hoje município de Cáceres, que teve seu primeiro plano diretor já na Ata de sua fundação, com posição, destinação e tamanho dos terrenos, altura do pé direito das casas, frente da Igreja para o poente, largura das vias pública e outras diretrizes, vive hoje uma verdadeira calamidade pública.
Administrada por uma Gestão pública abortada, alçada ao poder por alguns poucos em detrimento da grande maioria da população, é evidente sua ilegalidade na moralidade dos preceitos que norteiam uma sociedade justa e igualitária.
Dessa forma, ainda sem identificar uma vocação econômica que realmente inclua sua população, este rincão vai passando (ou penando) seus dias. Começoucomo coletor de impostos do Império Português, após e simultaneamente até o momento, a pecuária extensiva. Nesse ínterim experimentou-se a exploração dos nossos recursos naturais como a pele de animais silvestres, bicho da seda, óleo de babaçu, a poaia, a borracha. As Fazendas Jacobina, Descalvados, Ressaca, Facão e Barranco Vermelho, com suas produções de extrato de carne e derivados, cachaça e açúcar. Após a Guerra do Paraguai, o intenso comércio através da Bacia do Prata principalmente com a costa brasileira e com os países europeus.
Acrescenta-se aí, o fato de que pela sua posição de município de fronteira, sempre esteve presente grande contingente de militares do Exército Brasileiros e outros órgãos envolvidos com a Segurança Nacional, contribuindo dessa formacom a injeção de dividendos na economia do município.
Contava Cáceres até meados do século XX, com 50.000 km², exatamente o dobro de sua área atual, indo seus limites territoriais até o vizinho estado de Rondônia. À época, com incentivos do Governo Federal através de Programas como POLOCENTRO E POLONOROESTE, que tinham como objetivos principais a povoação e abertura da fronteira oeste do Brasil, suas chamadas Glebas, que possuíam terras propícias para a agricultura, produziam tanto arroz e outros cereais que chegaram a ser destaque na grande mídia nacional. Aqui se situavam as Agências bancárias para transações financeiras; os grandes armazéns da Casemat, Cibrazen; o pólo de saúde; de segurança pública;o comércio de roupas e secos e molhados; a zona (bordel) da Catita e Dona Tereza entre outras, enfim, era pujante a economia do município.
Porém, com a emancipação política dessas glebas e descentralização dos órgãos públicos auxiliares, Cáceres perdeu grande fonte de sua renda. Necessário se fazia então, uma reorganização, um planejamento de como seria a sobrevivência da cidade-mãe de 15 municípios da região sudoeste do continental Estado de Mato Grosso.
A partir de então, ao inverso de um bem elaborado plano de recuperação econômica, o que se vê é uma total e absoluta sucessão de erros pelos quais se paga muito caro. Durante os últimos 40 anos, todos os institutos de pesquisa apontam para o empobrecimento da população local; a concentração do poder político e da riqueza nas mãos de uma minoria; a degradação do meio ambiente, da flora e fauna; as drogas matando e mutilando a juventude e consequentemente suas famílias; a cidade crescendo desordenadamente com grandes áreas fruto de pura especulação imobiliária empurrando os bairros para distante das ações do poder público.
São centenas de quilômetros de vias urbanas esburacadas, alagadiças ou empoeiradas; às escuras durante a noite; esgotos e lixão municipala céu aberto; praças mal cuidadas e abandonadas; matança desordenada da fauna ictiológica, destruição da mata ciliar e despejo de resíduos hospitalares, industriais e domésticos “in natura” no Rio Paraguai; um falso turismo praticado com altíssimos impactos negativos sociais, econômicos e ambientais; um poder público executivo e legislativo incompetente no sentido da elaboração de políticas públicas para a atração de empresas que gerariam emprego e renda para a população local, fomentando a economia da região.
Não se pode aqui praticar a política do quanto pior melhor, sob o risco da mediocridade. Houve sim avanços nessas últimas décadas. Apesar de capenga o município é referência para toda a região Oeste em cirurgia de média e alta complexidade; a UNEMAT, o IFMT, Faculdades Particulares entre as quais a FAPAN, são irradiadores do conhecimento, capacitando e qualificando a população, mas,... Que mais? Pessoas capacitadas pra trabalhar onde? Por aqui já estiveram Casas Pernambucanas, Tecidos Cuiabá, Frigorífico Frigossol, Casas Buri, 4 Empresas de Aviação Comercial, Jumbo Supermercados, Revolução e tantas outras empresas vivas na saudosa memória do povo.
Grandes e faraônicos projetos, como o próprio nome diz, são cortinas de fumaça. ZPE, HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ, AEROPORTO INTERNACIONAL, SAÍDA PARA O PACÍFICO, ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO, 65 DESTINOS INDUTORES DO TURISMO, PAC CIDADES HISTÓRICAS, REVITALIZAÇÃO DA ORLA DO RIO PARAGUAI e etc, só pra citar alguns, quando referidos em alguma roda de conversa, viram motivos de piadas, tamanho o descrédito.
Passa do momento dos governantes, ou melhor, do povo, tomar as rédeas do caminho do desenvolvimento, de dar um basta a tantos anos de politicagem coronelista da pior espécie, onde famílias aristocratas (raras exceções)se alternam no comando do poder local, sem a menor sensibilidade e compromisso com a realidade cruel de aproximadamente 50.000 mil pessoas, dados de um importante instituto de pesquisa, que vivem abaixo da linha da miséria nesta cidade.
O município teve seu princípio planejado e guerreiro, tomado dos espanhóis pela coragem de grandes estadistas como Luís de Albuquerque, queutilizando-se do “uti possidetis”, ocupava tantas terras quanto pudesse explorar. Portanto, historicamente sua população ao levantar da rede no “cagá do pinto”, fazer suas preces ao santo de devoção, degustar o guaraná de ralar com água de pote fresquinha fazendo o “quebra torto” e ouvindo o primeiro aboiado do dia, não tem o direito de se acovardar diante de tanta nobreza do seu passado.
Cáceres, até pelo fato de ter 50% de sua área em área pantaneira, deve continuar sendo grande produtora de bovinos, porém, seu povo não deve ter vida de gado, “marcado e feliz”.
Ricardo Vanini – Bacharelando em Turismo = Turma Fora de Sede-Campus “Jane Vanini”
E-mail: vaniniricardo@hotmail.com
Prestes a completar 233 anos de fundação, Vila Maria do Paraguai, assim denominada no seu início, passa na atualidade uma crise sem precedentes em sua história.
Fruto de disputa entre os reinos Luso ede Castela, justamente pela sua estratégica posição geopolítica, o hoje município de Cáceres, que teve seu primeiro plano diretor já na Ata de sua fundação, com posição, destinação e tamanho dos terrenos, altura do pé direito das casas, frente da Igreja para o poente, largura das vias pública e outras diretrizes, vive hoje uma verdadeira calamidade pública.
Administrada por uma Gestão pública abortada, alçada ao poder por alguns poucos em detrimento da grande maioria da população, é evidente sua ilegalidade na moralidade dos preceitos que norteiam uma sociedade justa e igualitária.
Dessa forma, ainda sem identificar uma vocação econômica que realmente inclua sua população, este rincão vai passando (ou penando) seus dias. Começoucomo coletor de impostos do Império Português, após e simultaneamente até o momento, a pecuária extensiva. Nesse ínterim experimentou-se a exploração dos nossos recursos naturais como a pele de animais silvestres, bicho da seda, óleo de babaçu, a poaia, a borracha. As Fazendas Jacobina, Descalvados, Ressaca, Facão e Barranco Vermelho, com suas produções de extrato de carne e derivados, cachaça e açúcar. Após a Guerra do Paraguai, o intenso comércio através da Bacia do Prata principalmente com a costa brasileira e com os países europeus.
Acrescenta-se aí, o fato de que pela sua posição de município de fronteira, sempre esteve presente grande contingente de militares do Exército Brasileiros e outros órgãos envolvidos com a Segurança Nacional, contribuindo dessa formacom a injeção de dividendos na economia do município.
Contava Cáceres até meados do século XX, com 50.000 km², exatamente o dobro de sua área atual, indo seus limites territoriais até o vizinho estado de Rondônia. À época, com incentivos do Governo Federal através de Programas como POLOCENTRO E POLONOROESTE, que tinham como objetivos principais a povoação e abertura da fronteira oeste do Brasil, suas chamadas Glebas, que possuíam terras propícias para a agricultura, produziam tanto arroz e outros cereais que chegaram a ser destaque na grande mídia nacional. Aqui se situavam as Agências bancárias para transações financeiras; os grandes armazéns da Casemat, Cibrazen; o pólo de saúde; de segurança pública;o comércio de roupas e secos e molhados; a zona (bordel) da Catita e Dona Tereza entre outras, enfim, era pujante a economia do município.
Porém, com a emancipação política dessas glebas e descentralização dos órgãos públicos auxiliares, Cáceres perdeu grande fonte de sua renda. Necessário se fazia então, uma reorganização, um planejamento de como seria a sobrevivência da cidade-mãe de 15 municípios da região sudoeste do continental Estado de Mato Grosso.
A partir de então, ao inverso de um bem elaborado plano de recuperação econômica, o que se vê é uma total e absoluta sucessão de erros pelos quais se paga muito caro. Durante os últimos 40 anos, todos os institutos de pesquisa apontam para o empobrecimento da população local; a concentração do poder político e da riqueza nas mãos de uma minoria; a degradação do meio ambiente, da flora e fauna; as drogas matando e mutilando a juventude e consequentemente suas famílias; a cidade crescendo desordenadamente com grandes áreas fruto de pura especulação imobiliária empurrando os bairros para distante das ações do poder público.
São centenas de quilômetros de vias urbanas esburacadas, alagadiças ou empoeiradas; às escuras durante a noite; esgotos e lixão municipala céu aberto; praças mal cuidadas e abandonadas; matança desordenada da fauna ictiológica, destruição da mata ciliar e despejo de resíduos hospitalares, industriais e domésticos “in natura” no Rio Paraguai; um falso turismo praticado com altíssimos impactos negativos sociais, econômicos e ambientais; um poder público executivo e legislativo incompetente no sentido da elaboração de políticas públicas para a atração de empresas que gerariam emprego e renda para a população local, fomentando a economia da região.
Não se pode aqui praticar a política do quanto pior melhor, sob o risco da mediocridade. Houve sim avanços nessas últimas décadas. Apesar de capenga o município é referência para toda a região Oeste em cirurgia de média e alta complexidade; a UNEMAT, o IFMT, Faculdades Particulares entre as quais a FAPAN, são irradiadores do conhecimento, capacitando e qualificando a população, mas,... Que mais? Pessoas capacitadas pra trabalhar onde? Por aqui já estiveram Casas Pernambucanas, Tecidos Cuiabá, Frigorífico Frigossol, Casas Buri, 4 Empresas de Aviação Comercial, Jumbo Supermercados, Revolução e tantas outras empresas vivas na saudosa memória do povo.
Grandes e faraônicos projetos, como o próprio nome diz, são cortinas de fumaça. ZPE, HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ, AEROPORTO INTERNACIONAL, SAÍDA PARA O PACÍFICO, ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO, 65 DESTINOS INDUTORES DO TURISMO, PAC CIDADES HISTÓRICAS, REVITALIZAÇÃO DA ORLA DO RIO PARAGUAI e etc, só pra citar alguns, quando referidos em alguma roda de conversa, viram motivos de piadas, tamanho o descrédito.
Passa do momento dos governantes, ou melhor, do povo, tomar as rédeas do caminho do desenvolvimento, de dar um basta a tantos anos de politicagem coronelista da pior espécie, onde famílias aristocratas (raras exceções)se alternam no comando do poder local, sem a menor sensibilidade e compromisso com a realidade cruel de aproximadamente 50.000 mil pessoas, dados de um importante instituto de pesquisa, que vivem abaixo da linha da miséria nesta cidade.
O município teve seu princípio planejado e guerreiro, tomado dos espanhóis pela coragem de grandes estadistas como Luís de Albuquerque, queutilizando-se do “uti possidetis”, ocupava tantas terras quanto pudesse explorar. Portanto, historicamente sua população ao levantar da rede no “cagá do pinto”, fazer suas preces ao santo de devoção, degustar o guaraná de ralar com água de pote fresquinha fazendo o “quebra torto” e ouvindo o primeiro aboiado do dia, não tem o direito de se acovardar diante de tanta nobreza do seu passado.
Cáceres, até pelo fato de ter 50% de sua área em área pantaneira, deve continuar sendo grande produtora de bovinos, porém, seu povo não deve ter vida de gado, “marcado e feliz”.
Ricardo Vanini – Bacharelando em Turismo = Turma Fora de Sede-Campus “Jane Vanini”
E-mail: vaniniricardo@hotmail.com
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