Foto: Ricardo Vanini
Foto: Eduardo Issa
Foto: Eduardo Issa
Foto: Eduardo Issa
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- Rio Paraguai ...hoje logo pela manhã, sobre o Cais Mário Correa, estava-mos todos ali a admirá-lo. O senhor Américo, cidadão com aproximadamente 70 anos de idade, Ana Júlia de 10, e nós. A conversa era uniforme, como é belo o Rio que banha a cidade. Ao fundo, um casal de Anhumas, faceiras, posava para as lentes. De repente, o ancião centraliza a fala e dispara, como que alucinado:
- Rio Paraguai ...hámilhões na era paleozóica quando da ereção das montanhas do fundo do mar, talvez aí tenha sido traçado sua exuberância e formosura.
- Rio Paraguai ...há aproximadamente 12000 (doze mil) anos, seus primeiros habitantes, uma civilização inteligente, sabia fazer uso dos seus recursos sem degrada-lo. Alimentavam-se de seus peixes, trabalhavam a cerâmica, plantavam pequenas roças, bebiam de sua água e deslocavam-se nas suas pirogas conforme sua estação seca ou cheia. Eram os Xarayes, Guatós, Bakairis, Chiquitanos, Guaicurus, provavelmente vindos das Ilhas do Pacífico, das Filipinas, da Polinésia, da Austrália.
- Rio Paraguai ...já no século XVI, por volta de 1520, foram os homens brancos habitantes do Velho Mundo, que navegando por suas águas aqui pisaram. Apossaram das terras que banha, extraíram-lheriquezas, e, em nome de uma guerra justa, deflagraram um processo de extermínio cruel e desumano de seus primeiros habitantes.
- Rio Paraguai ...portal de entrada por onde os bandeirantes paulistas/portugueses em busca de índios e riquezas minerais, desbravaram o sertão desconhecido e aumentaram os domínios da coroa portuguesa no novo mundo.
- Rio Paraguai... testemunha principal da terceira partida que tinha como função fincar às suas margens uma pirâmide de mármore de lioz que estabelecia os limites das terras conquistadas pelos lusos e pelos castelhanos.
- Rio Paraguai... principal motivo da criação de Vila Maria do Paraguai, pela sua navegabilidade e abundância em águas e peixes. São 231 anos de uma relação caolha, onde somente um doa toda sua vida, recebendo em trocacontaminação por coliformes fecais, dejetos hospitalares, metais pesados, pesticidas, fertilizantes químicos. Como se não bastasse ainda querem implantar em seu entorno usinas de álcool e a monocultura da soja.
- Rio Paraguai... corredor histórico de exportação da ipecacuanha, borracha, peles de animais silvestres, charque. Hoje se utilizam dessa prerrogativa para lançar em suas curvas sinuosas, com raios de curvatura pequenos, enormes comboios com mais de
200 metros de comprimento e36 metros de boca, pesando mais de 100 toneladas, causando verdadeiros estragos em seus cardumes, barrancos e mata ciliar. Quem ganha o quê com isso? - Rio Paraguai... seu pôr do sol e sua aurora transformam-se em um espelho refletindo uma grande profusão de cores e luzes. O Presidente americano Theodore Roosevelt jamais te esqueceu.
- Rio Paraguai... navegando pelo “Etrúria”, “Santa Ana”, “Isaura” aqui aportaram portugueses, japoneses, palestinos, alemães, turcos... mas principalmente o espanhol Francisco Villanova e o italiano José Dulce, grandes empreendedores de estabelecimentos como a Usina da Ressaca e a Casa Dulce (Ao Anjo da Ventura), respectivamente, patrimônios do povo desta terra.
- Rio Paraguai... hoje o governo estraçalha com a estrutura dos seus principais organismos de fiscalização e controle como a Polícia Ambiental, a Sema, o Juvam, o Ibama. Enquanto o mundo preocupa-se com o aquecimento global, conservação e preservação dos recursos naturais, nossos governantes criam leis e tomam atitudes que somente satisfazem seus interesses político-eleitoreiros, permanecendo na contramão da história.
- Rio Paraguai... já não se ouve mais o aboiado do vaqueiro que sobre seu cavalo pantaneiro dominava com maestria seu laço de 12 braças do couro de uma novilha, por ele próprio trançado.
- Rio Paraguai... às suas margens muito se festou embalado pelas polcas paraguaias, síntese das músicas espanholas com influência guarani, oriundas da bacia platina.
- Rio Paraguai... principal arena do conflito mais cruento da América do Sul, onde mais de 150.000 cento e cinqüenta mil pessoas morreram. Seus batumes ou tapagens salvaram a população cacerense dessa barbaridade.
- Rio Paraguai... do Saladeiro/Charqueada Descalvados, das Fazendas Barranco Vermelho, Porto do Campo, Palmital, Nova Larga, São João.
- Rio Paraguai... das famosas piranhas, dos jacarés, sucuris, capivaras, garças, tuiuiús, biguás, cervo do pantanal, do lendário minhocão.
- Rio Paraguai... que de acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei Federal nº 4.771 e Lei Complementar nº 38, art. 58) deveria ter sua Área de Preservação Permanente (mata ciliar) intocada. Infelizmente não é o que revela levantamento realizado pelo Juvam e Polícia Ambiental, no trecho compreendido entre a Barra do Sepotuba e o Jauru, onde foram identificadas mais de 190 pontos de invasão, dando a nítida impressão que o poder econômico e a certeza da impunidade é que normatizam as práticas deste país.
- Rio Paraguai... de tanta história, necessário se faz que as novas gerações se aprofundem no estudo do passado da nossa gente para dele retirar os exemplos de fé, de coragem, de sacrifício que alicerçam a nossa formação de povo pantaneiro.
- Ofegante, já quase sem voz, o Senhor Américo conclui. Rio Paraguai... que belas lembranças de um belo rio que foi palco de grandes conquistas.
- E, de repente, como que por encanto, o Senhor Américo desaparece. Ao olharmospara Ana Júlia, vemos lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
- Terá sido Senhor Américo um espírito de algum guerreiro indígena que habitava esta região preocupado com o futuro da humanidade? Façamos uma reflexão.
- Ricardo Vanini – Formando do Curso de Turismo Campus “Jane Vanini” – Turma Fora de Sede – E-mail: vaniniricardo@yahoo.com.br
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