Na cozinha da Doce Cuiabania Café, da qual é proprietária, Anna Carolina, de apenas 20 anos, trama uma maneira de repaginar as receitas da culinária local, ensinadas pela tia-avó, Tia Eunice, e torná-las atrativas para uma geração criada a hambúrgueres e batatas fritas.
A tarefa não é nada fácil, adianta. “As pessoas não querem comer comida do tempo da avó, temos que modernizar a culinária cuiabana para poder vender”, diz, com a experiência de quem viu as compotas de doces regionais ‘criarem teia de aranha’ nos armários da loja.
“São doces muito bons, mas ninguém quer nem experimentar. Se em três meses eu vendi cinco compotas de doces, foi muito”, lamenta. Mas da dificuldade, saiu a inovação. “Então eu peguei uma compota com doce regional, recheei um bolo e ofereci, as pessoas adoraram. Eu nem cobrei, mas sei que quem provou vai comprar na próxima vez que vier”, aposta a jovem que confunde as brincadeiras de infância com o tempo desperdiçado atrás do fogão.
“Desde os 10 anos de idade que eu faço e vendo bolo. Eu disputava o prêmio de rainha da festa da primavera da escola e vendia bolo para arrecadar dinheiro”, diz lembrando-se da primeira empreitada frustrada. “Eu não tinha noção de preços, vendia muito barato e acabei perdendo o prêmio”, lamenta uma década após.
Como sua brincadeira preferida sempre foi pilotar fogão, logo surgiu uma nova oportunidade, mas dessa vez o empreendimento infantil era ‘administrado’ pelos irmãos. “Ao lado da minha casa tinha um viveiro, eu fazia os bolos e meus irmãos vendiam pelo muro para os trabalhadores. O dinheiro ficava com eles, que compravam bolitas”. Mas no final das contas, os funcionários deram ‘calote’ na criançada e a futura empresária amargou mais uma frustração.
Após concluir a faculdade de gastronomia, que pagou sozinha, graças ao emprego em uma livraria, abriu um café. Ela já havia trabalhado em um buffet e sido sub-chefe de cozinha de um grande restaurante da capital. “Infelizmente o café não deu certo”, lamenta a terceira derrota comercial, mas sem abandonar o barco. “Não nasci para ser funcionária, quero ser dona do meu negócio”, diz.
O empreendimento desta vez, localizado na sala 05 do Centro Comercial Jardins, no bairro Jardim Cuiabá, já está consolidado, mas Anna quer vencer o desafio de vender o que aprendeu a fazer em casa. Aos poucos, vai dando um jeitinho de encaixar o gostinho da ‘cuiabania’ na garotada. Durante a entrevista, duas jovens entraram na Doce Cuiabania Café e pediram apenas salgados. Anna deve ter pensado: “isto ainda vai mudar”.
Da Redação - Lucas Bólico
Foto: Lucas Bólico/OD Anna Carolina tem apenas 20 anos, é formada em gastronomia e tem seu próprio negócio.
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