Uma amostra do que a floresta amazônica fornece para a alimentação poderá ser conferida – e consumida – na Praça da Sociobiodiversidade, dentro da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, entre os dias 16 e 22 de junho.
Passados 20 anos da Rio 92 e em pleno ano intermacional do cooperativismo, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) levará produtos dos biomas brasileiros à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O espaço, organizado em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e com a Companhia Nacional de Desenvolvimento (Conab), também servirá de local para debates sobre a participação da agricultura familiar nos meios de produção sustentáveis.
O MDA, unindo o mote da Rio+20 com o ano do cooperativismo, dará espaço para duas cooperativas e uma associação do bioma Amazônia mostrarem ao mundo suas experiências. Gerar renda de forma sustentável é a essência do projeto Reflorestamento Econômico, Consorciado Adensado (Reca), da Associação dos Pequenos Agrossilvicultores de Rondônia (RO), da Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre) e da Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), de Juruena (MT).
"A exposição de produtos oriundos das nossas florestas, produtos orgânicos da agricultura familiar, vai ser muito importante para que o público presente na Rio+20 tenha contato direto, não só vendo como experimentando esses produtos e conversando com os expositores, que são os agricultores", afirma o secretário da Agricultura Familiar do MDA, Laudemir Müller.
Ele aponta que o evento terá uma rica mostra de produtos - não só do bioma Amazônia, como também Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica -, com grande potencial de consumo e que demonstram a capacidade de gerar renda e ao mesmo tempo preservar, "usando com sustentabilidade a biodiversidade que o Brasil tem, e o conhecimento tradicional do nosso país".
O diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria da Agricultura Familiar do MDA, Arnoldo de Campos, enfatiza que a Praça da Sociobiodiversidade - dentro da Arena Socioambiental, no Aterro do Flamengo -, vai mostrar o potencial das cooperativas na erradicação da pobreza e na adoção de práticas sustentáveis. "Estamos promovendo a geração de renda com a floresta em pé, a partir de produtos que são feitos por comunidades rurais e oriundos da nossa biodiversidade", afirma Campos.
Cooperacre entrosada com programas do MDA
A participação da Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre) na Praça da Sociobiodiversidade está em sintonia com o mote da Rio+20: desenvolvimento sustentável. É exatamente este o modelo de gestão adotado pela Cooperacre, há 10 anos, que hoje serve como exemplo de extrativismo com preservação ambiental e agregação de valor e renda. “Todos os produtos da Cooperacre têm relação direta com a preservação ambiental”, assegura o superintendente , Manoel Monteiro de Oliveira.
Primeiro funcionário da cooperativa e responsável pela gestão administrativa da Central, Oliveira conta que os programas do MDA são fundamentais para garantir o pagamento de um preço justo para os extrativistas e também para agregação de valor com o beneficiamento de produtos como a castanha e o látex. “O nosso entrosamento com o MDA permite que o extrativista receba na hora a remuneração pelo seu produto. A maioria desses trabalhadores depende exclusivamente do que recebe da Central”, reitera.
A relação com os programas do ministério, referida por Manoel, começou em 2004 quando a Cooperacre fez a primeira venda para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na modalidade formação de estoques. O programa ajudou a equilibrar o preço da castanha, que em 2001 valia R$ 7,00 a lata de 10 Kg. Naquele ano, com os recursos do PAA, o valor quase dobrou e, na última safra, a lata chegou a R$27. E é a castanha, o principal produto da Central, que estará disponível para comercialização na Rio+ 20. Quatrocentos quilos serão vendidos em embalagens de 150 e de 500 gramas na Praça da Sociobiodiversidade, junto a outros produtos do Bioma Amazônia.
A partir de 2009, a cooperativa também acessou a linha de agroindústria do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) que financia investimentos, inclusive em infraestrutura, para beneficiamento, processamento e comercialização da produção. Inicialmente, a cooperativa acessou R$ 2 milhões e nos últimos quatro anos os investimentos somam R$ 15 milhões.
A Cooperacre começou a operar em 2001 com apenas um funcionário e mais de R$ 267 mil em dívidas com os trabalhadores. Atualmente, movimenta mais de R$ 35 milhões ao ano, possui uma sede, três filiais e 250 funcionários devidamente registrados. A Central reúne 33 cooperativas de 14 municípios do Acre e possui dois mil associados diretos, escoando mais de 80% da produção extrativista brasileira de castanha no Acre. “Se considerarmos também as famílias que não são associadas, a Cooperacre beneficia mais de quatro mil famílias”, ressalta o superintendente.
Um projeto de reflorestamento foi implantando há dois anos com apoio dos governos federal e estadual visando garantir o futuro das próximas gerações extrativistas. Por meio do projeto, os produtores replantaram cerca de mil hectares de florestas de seringueira e castanha.
Projeto Reca: associativismo com preservação ambiental
Outra história de sucesso, baseada na relação entre associativismo e preservação ambiental, será levada à Rio+20 pelo projeto Reflorestamento Econômico, Consorciado Adensado (Reca), da Associação dos Pequenos Agrossilvicultores, de Nova Califórnia (RO). Para o presidente da associação e coordenador do projeto Reca, Hamilton Condack, a Rio+20 é a vitrine ideal para mostrar o trabalho já reconhecido pelo compromisso com a preservação ambiental e organização social. “Como nós estamos distantes dos grandes centros, aproveitamos eventos como a Rio+20 para divulgar os nossos produtos”, reforça.
A participação do Reca no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), articulados pelo MDA, permite a consolidação do projeto e assegura o ganho para cerca de 200 famílias de forma direta, e para mais de 2 mil pessoas de forma indireta. O Reca levará à Rio+20 doces, licores e geleias produzidos a partir de frutos típicos da floresta, como o açaí e a castanha.
O projeto Reca nasceu em 1989, com um grupo de agricultores de várias partes do Brasil que foram assentados em uma demarcação do Incra, no antigo seringal Santa Clara. Na época, as terras eram demarcadas e entregues às famílias sem nenhum tipo de apoio. Os agricultores eram induzidos a derrubar a floresta para dar lugar às plantações. Outra dificuldade era a malária que assolava os assentados e contribuía para um quadro de dor e desesperança. Mesmo assim, os agricultores iniciaram o trabalho de desbravar as terras. Como as terras estavam em processo de litígio, os projetos dos assentados não eram aprovados e eles não recebiam recursos dos governos estaduais de Rondônia e do Acre.
Dada a necessidade, os agricultores se reuniram e começaram a discutir como fazer para sobreviver frente a tantas dificuldades. Eles se juntaram a antigos povos da região, como os seringueiros, e começaram a discutir uma forma alternativa que desse condições de melhorar a vida de todos, adaptada ao clima e forma de vida dos povos locais. Unindo os conhecimentos de organização e cooperação dos povos oriundos das outras áreas com os dos povos da região sobre a floresta, começaram a elaborar um projeto para a implantação de sistemas agroflorestais (Saf's), escolhendo plantas nativas e frutíferas.
Depois de idas e vindas e diversos projetos que não receberam qualquer apoio, o então bispo do Acre, dom Moacyr Grech, abraçou a ideia, e com recursos de uma instituição holandesa foram implantados 200 hectares de Saf's com pupunheira para frutos, cupuaçuzeiro e castanha do Brasil. Atualmente, o Reca é dividido em 11 grupos, de acordo com a proximidade.
As dificuldades se transformaram em superação e o Reca chega a Rio+20 como referência de projeto voltado ao desenvolvimento das comunidades locais, unindo preservação da floresta e comprometimento social. O Reca ganhou o prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) Amazônia Viva: plantando e colhendo frutos para um mundo melhor, em 2007, e foi o vencedor do Ford Preservação Ambiental.
Coopavam leva experiência premiada à Rio+20
A Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), de Juruena (MT) e a Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA), vão levar a Rio+20 o fruto de experiências que vem sendo premiadas por apoiarem as comunidades locais com sustentabilidade. Mais de cinco mil quilos de castanha do Brasil e derivados como farinha, óleo e biscoito serão expostos e comercializados na Praça da Sociobiodiversidade. A curta história da Cooperativa – criada em 2008 – já é reconhecida por órgãos nacionais e internacionais por levar desenvolvimento aos cooperados, conservar a floresta amazônica e ainda fornecer alimentação saudável para a população da região.
A Coopavam recebeu recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que investiu R$ 336 mil na construção da fábrica e para a conservação e recuperação ambiental no assentamento Vale do Amanhecer.
A cooperativa envolve agricultores, extrativistas e cinco etnias de indígenas da Região Noroeste de Mato Grosso - Cinta-Larga, Apiacás, Munduruku, Caiabi e Zoró. Antes da fundação da Coopavam, os extrativistas e indígenas recebiam entre R$ 0,50 e 0,80 por quilo de castanha in natura, compradas por atravessadores. Hoje, devido à participação em vários Programas do Governo, principalmente no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), articulado pelo MDA, nas modalidades Doação Simultânea e Formação de Estoque, os extrativistas recebem até R$ 4 pelo quilo in natura e seca. Esses produtos chegam à mesa de aproximadamente 22 mil crianças e de adultos em situação de risco de insegurança alimentar em seis municípios da região.
A responsável pela gestão da Coopavam e da AMCA, Lucinéia Machado, enfatiza a transformação que a cooperativa e a associação estão propiciando à toda comunidade. Mais do que o ganho financeiro, os extrativistas estão se conscientizando sobre a importância de preservar a floresta. “Com o PAA as crianças estão adquirindo um novo hábito alimentar. Consumindo produtos da floresta aprendem o valor de preservá-la”, pondera. Lucinéia acrescenta que outro resultado importante foi a valorização do trabalho das mulheres que, segundo ela, são as principais responsáveis pela qualidade do produto final. Lucinéia ainda explica que a preocupação com a diversificação dos produtos foi a motivadora para a formação da AMCA. Formada por 85 sócias, a associação, que funciona em conjunto com a Coopavam, produz biscoitos que estarão à venda na Rio+20. “A nossa participação servirá para que as pessoas do mundo inteiro conheçam a nossa experiência que une geração de renda com conservação ambiental e ganho social”, revela.
A AMCA recebeu, em novembro de 2011, o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais, na Categoria "Participação de Mulheres na Gestão de Tecnologia Social" e a Coopavam foi premiada pela 4ª edição dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM-ONU) com a prática: Amazônia Viva: plantando e colhendo frutos para um mundo melhor.
Também conhecidos como "8 Jeitos de Mudar o Mundo", os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são um conjunto de metas pactuadas pelos governos dos 191 países-membros da ONU com a finalidade de tornar o mundo um lugar mais justo, solidário e melhor para se viver.
O compromisso foi firmado durante a Cúpula do Milênio, em setembro de 2000, após uma análise dos maiores problemas globais e prevê um conjunto de oito macro objetivos, voltados para as áreas de saúde, renda, educação e sustentabilidade, a serem alcançados pelas nações até 2015.
Dos oito objetivos, a Coopavam atingiu pelos menos a metade: erradicar a extrema pobreza e a fome, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia de mulheres, garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer parcerias para o desenvolvimento. “O nosso trabalho está sendo reconhecido no país e agora no mundo. Estes prêmios nos dão uma motivação ainda maior para continuar”, finaliza.
Diversidade para o mundo
Durante a Rio+20, a Praça da Sociobiodiversidade e outras participações do MDA nas programações paralelas mostrarão a diversidade brasileira para o mundo, as inciativas de sustentabilidade da agricultura familiar por meio das ações da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e que este setor é estratégico para o desenvolvimento rural sustentável no país.
"A exposição de produtos oriundos das nossas florestas, produtos orgânicos da agricultura familiar vai ser muito importante para que o público presente na Rio+20 tenha contato direto, não só vendo como experimentando esses produtos e conversando com os expositores, que são agricultores", afirma o secretário da Agricultura Familiar, Laudemir Müller. Ele aponta que o evento terá uma rica mostra de produtos (dos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica) com grande potencial de consumo e que demonstram a capacidade de gerar renda e ao mesmo tempo preservar, "usando com sustentabilidade a biodiversidade que o Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso país".
"O que a gente quer na Rio + 20 é mostrar essa iniciativa e fazer com que o mundo possa ter uma ideia que o Brasil é diverso, além de dar visibilidade para o segmento da agricultura familiar, para esta identidade social no país, que muitas vezes não é conhecida no exterior e que é tão importante para a economia, para a sociedade brasileira e para o meio ambiente", resume Arnoldo de Campos, diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Na Praça da Sociobiodiversidade, que acontece de 16 a 22 de junho, no Aterro do Flamengo, como parte da programação paralela da Rio+20, estarão 23 empreendimentos de agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e produtos do Talentos do Brasil (moda). A praça ficará no espaço Arena Socioambiental, das 12h às 20h.
O diretor observa que o Plano Nacional da Sociobiodiversidade promove, a partir de uma articulação de instrumentos de políticas públicas, de atores sociais, empresariais e governamentais envolvidos com a temática, "a geração de renda com a floresta em pé", a partir de produtos que são feitos por comunidades rurais e oriundos da biodiversidade brasileira.
Autor: Rondonoticias
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