No ano de 1994, quando foi fundada a Associação Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR), já se identificavam cerca de 400 empreendimentos de TR no Brasil. Diversas temáticas passaram a se desenvolver no campo, entre elas, o Agroturismo, atividade iniciada na região serrana do Espírito Santo. Hoje, 24 anos depois, o número de empreendimentos envolvidos de alguma forma com o Turismo Rural já atinge por volta de 15 mil propriedades rurais e o setor é o que mais cresce dentro do turismo brasileiro, com uma média de 18 a 20% ao ano.
Destas quase 15 mil propriedades campesinas, 72% delas tem até 50 hectares, o que mostra a grande inserção de pequenos produtores rurais em busca de diversificação e em agregar novos valores a suas atividades tradicionais. Muitos destes já teriam sido "eliminados" da vida rural, não fora a existência do Turismo Rural como uma nova oportunidade de negócios no campo. Este segmento gera hoje perto de 300 mil empregos, diretos e indiretos, no país. De forma direta, 58% são representados por mão-de-obra familiar da própria propriedade rural e o restante por trabalhadores de origem local ou regional a este destino turístico. Outro detalhe importante é a presença feminina na condução da maioria dos empreendimentos de TR, pois a mulher se faz presente em cerca de 91% destes. Ainda há um processo de "espaço digno" aos mais "velhos", que em muitas dessas propriedades do TR, desempenham funções de relevância, principalmente, quanto a serem "contadores de história, casos e causos..."!
A ABRATURR hoje está organizada em seccionais, em 10 estados brasileiros.o Brasil.
Poderíamos classificar a trajetória dessa atividade em quatro "ciclos" importantes:
Em um primeiro momento, houve um grande impacto na "mudança de visão", das propriedades rurais brasileiras que passaram a trabalhar com o TR. Este espaço sempre foi considerado como um "feudo" familiar, onde imperava a vontade exclusiva do proprietário. De repente, este espaço passou a ser mais "democrático", compartilhado com outros "donos" temporários, os turistas. Esta foi sem dúvida a primeira grande mudança operada pelo Turismo Rural no cenário campesino nacional.
A seguir, surgiu a necessidade de que antigos e novos atores do campo desenvolvessem novas práticas que não lhes eram tradicionais, como por exemplo, a hospedagem e alimentação de pessoas, com pagamento de custos, procedimentos que sempre foram feitos em forma de hospitalidade campeira. Surgiu, assim, a já citada e fundamental presença da MULHER a frente de negócios que exigiam um trato mais fino nos serviços ofertados. O VELHO (representado pela figura do "nono ou a nona"), com sua experiência e história, também foram recrutados para completar a equipe de atratividade de cada empreendimento. Eram novos tempos rurais e a introdução de outras receitas financeiras em propriedades consideradas tradicionais e que já não tinham mais condição de sobrevivência, começou a despertar o interesse em muitos produtores rurais de incorporarem esta atividade em suas fazendas ou sítios.
Por volta de 2003 chegamos ao período que denominamos como o 3º. Ciclo do Turismo Rural brasileiro, pois já atingindo mais de cinco mil empreendimentos rurais com algum tipo de oferta turística, o TR já era, então, considerado, como "a contra mão do êxodo rural" !
Muitos campesinos, pelas novas oportunidades de geração de emprego e renda em seu próprio lugar de vida, passaram a permanecer ali, diminuindo a busca desordenada pelo médio ou grande centro urbano, que faziam das cidades, verdadeiras "panelas de pressão social".
Assim o campo ganhou uma nova classificação para seus produtos e serviços, como nos mostra a conceituação oficial da atividade: "Turismo Rural é o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade".
Na atualidade, vivemos o 4º. Ciclo do TR, quando se dá agora "um intenso retorno" ao meio rural de muitos daqueles que deixaram o campo, atraídos pelas "fantasias" da vida urbana. Estes, que acabaram, em sua grande maioria, conhecendo momentos de muitas dificuldades e até de sobrevivência, começaram a compor um grupo social que denominei como ...Os Sem – sem moradia, sem alimentação, sem saúde, sem emprego, sem esperanças e muito fortemente, sem história!
Descobriram que "eram felizes e não sabiam", e hoje, uma boa parte desses migrantes está retornando ao campo, com as novas e diversas oportunidades geradas nas atividades do TR.
Mas o caminho de consolidação a ser estabelecido em plenitude pelo segmento Turismo Rural, ainda se vislumbra necessitando de inúmeras adequações e novas legislações, em suas áreas de vivência.
Podemos citar a maior delas, como a de "reconhecimento" de ser uma atividade AGROECONÔMICA do setor da Agricultura e Pecuária brasileira, aspiração que agora vislumbramos mais próxima, através do projeto de Lei No. 5.077, de 2009, elaborado pelo ex-deputado federal paulista, dr. Silvio Torres.
Ser "considerada" oficialmente, como uma ATIVIDADE RURAL brasileira!
Só após isso, poderemos ter então, legislações próprias, pertinentes e necessárias ao setor, entre as quais podemos destacar, a Tributária, a Trabalhista, a Creditícia, entre outras tantas.
É preciso que para que este objetivo seja atingido, se somem os esforços de diversos segmentos da vida de nosso país, como os órgãos institucionais de Turismo, através de sua representação maior que é o Ministério do Turismo; da Associação oficial do setor TR nacional, abarcados na figura da Associação Brasileira de Turismo Rural - ABRATURR; da Iniciativa Privada, da Academia, Entidades do Terceiro Setor, de Organizações Não Governamentais, e muitas outras mais.
Mas, falando com o respaldo de mais de 15 mil proprietários rurais do Brasil e um imenso rol de trabalhadores e colaboradores do setor, entendemos que o primeiro e fundamental passo para este "avanço" no Turismo Rural brasileiro, necessitará e deverá partir da "vontade política" representada pela ação parlamentar do Congresso Nacional.
Quanto a comercialização do "produto turístico da atividade", em grande parte há ainda um desconhecimento duplo da atividade TR, tanto dentro da fonte comercializadora, como as agencias e operadoras, quanto na fonte produtora, representadas pelas fazendas de TR. Quem vende não conhece o produto "Turismo Rural" na íntegra, a sua grande abrangência e suas especificidades; quem produz (o empresário rural) na maioria das vezes não entende a função e trabalho dos atores da comercialização e dificilmente possui uma visão profissional do Turismo. Tudo ainda é muito novo, mas gradativamente este sistema de compreensão vem crescendo e temos já boas empresas de comercialização no mercado assim como propriedades rurais com alta demanda turística nacional e internacional.
Na continuidade do trabalho dos diletos companheiros que nos sucedem na luta pela consolidação da atividade Turismo Rural, acredito que isso em breve será uma realidade, dando ao segmento do Turismo Rural brasileiro, as condições necessárias para ser um dos maiores destinos turísticos rurais do mundo!
Carlos Solera
(*) Ex- Presidente Executivo da Associação Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR-NA)
Leia mais: http://ceragr.webnode.com/news/o-salto-do-turismo-rural-brasileiro/
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