Poconé é cidade de encantos
Jackelyne Pontes
No centro-sul mato-grossense, dando boas-vindas a quem vai visitar o Pantanal, e guardando a entrada da Transpantaneira podemos respirar ares bucólicos, sentar-nos nas calçadas no final da tarde, deliciar-nos com os quitutes das festas de santo, fazer um passeio na pracinha e tomar um sorvete após a missa das 19 horas. Se ainda tivermos sorte podemos nos deparar com um ensaio a céu aberto dos Mascarados de Poconé, grupo de dança e música formados apenas por homens que com as suas máscaras e vestes coloridas, em um ritmo alucinado de uma melodia que mescla influências europeias, indígenas e negras encantam e hipnotizam que assiste.
Aliás os Mascarados foi o que mais me encantou nos três ótimos anos que morei a trabalho na Cidade Rosa. Foi amor à primeira vista. O colorido, as máscaras, os dançarinos, o movimento das roupas, as coreografias, os chapéus com plumas e o mistério sobre a identidade dos seus componentes tem expressão fortíssima, e me comove a cada vez que os assisto. O interessante é que em nenhuma parte do Brasil esta dança tem seguidores, e a sua origem também é desconhecida. Os mais antigos dizem que ela teve origem com os índios da etnia Beripoconé, que habitavam a região. De uma coisa eu tenho certeza: é lindo e sobretudo instigante.
Em junho, anualmente, a cidade que é o Portal do Pantanal se veste de azul e vermelho: é a Cavalhada. Aos cerca de 30 mil habitantes somam-se mais 10 mil para contemplar esta festividade que tem a sua origem em Portugal e que conta a história do combate dos exércitos Mouro e Cristão, com ares medievais e montados em cavalos pantaneiros, que envolve a disputa da rainha, queima do castelo e provas variadas. É emocionante e belo. Trata-se de cultura popular em seu mais orgânico significado. As famílias poconeanas se envolvem de maneira visceral, seja com os seus cavaleiros ou na escolha da rainha. É uma tradição. Se eu fechar os olhos consigo ouvir neste exato momento o som dos guizos, o trote dos cavalos e o repique da caixa, que é o instrumento usado pelos participantes para marcar os movimentos dos participantes.
E o que dizer dos passeios de chalana, dos pássaros no ninhal, dos jacarés com seus olhares misteriosos, da cheia e vazante dos rios, das cavalgadas, das revoadas de araras azuis, das vitírias régias e camalotes, e do encanto da onça pintada? Tudo lindo, experiência incrível, acessível a quem quiser fazer um turismo ecológico e conhecer de perto os encantos da nossa terra.
Apesar da falta de infraestrutura, de enfrentar problemas como todas as cidades interioranas do Estado, o bem mais precioso deste município localizado a 94 km de Cuiabá é com certeza o seu povo. Acolhedor e de boa conversa, qualquer um sente-se em casa. Feliz daquele que pode ao menos uma vez na vida ser recebido por uma família tipicamente poconeana para um refeição em um dos casarões antigos que fazem parte da arquitetura da cidade. Sou grata a Poconé pela hospitalidade, e sei que serei eternamente abençoada por São Benedito e Divino Espírito Santo, protetores deste tão rico pedaço de chão. Só quem conhece e vivencia a rotina da cidade sabe da pujança da cultura e das tradições e, apesar de ser Rosariense, posso dizer com convicção que o meu coração também é poconeano, meu coração é rosa.
Jackelyne Pontes é cirurgiã-dentista e colunista do Blog do Romilson com artigo publicado todo domingo - jackelynepontes@gmail.com
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