por, Vinícius Masutti
Arquivo pessoal
O poeta cuiabano Moisés Martins
Conto-lhes hoje, a história de Moisés. Mas o Moisés de que vou falar, não é profeta, não está em nenhum livro sagrado. Moisés é poeta e compôs livros em várias esferas. Ao contrário do que parece, o poeta não profere, nem prevê os acontecimentos. O poeta escreve e antevê os eventos. Quem disse isso foi Moisés, o poeta.
Moisés Mendes Martins Júnior é poeta de “Tchapa e cruz” (nascido em Campo Grande, ainda Mato Grosso). Tão cuiabano é, que escreveu um estudo sobre o poder da fala no dizer cuiabano. Aliás, é exatamente esse o nome do livro. Lá, disseca as excentricidades do dialeto falado e criado nas ruelas de Cuiabá. Dou um bom exemplo disso:
“Ecá esseminino, pialá, paresqui um sepo de temporá. I nessa época é inté pirigoso raio! Oiá lá nu mamão (Município de Chapada dos Guimarães). Lá prás bandas da Chapada, exotrodia, a cumadre da minha madrinha, Dindinha, foi tingida por um raio, que inté roxeô, i na hora! Figa Vige Vôte, Nossa Sinhora! Nem é bom lembra dissu. Jisus, Maria, José! Que nos proteja”.
Quem nunca passou por Cuiabá, dificilmente entenderá o escrito acima, mas é assim que o povo nativo dessa terra se comunica e não se estrumbica. Moisés sabe que o importante é viver o que diz e a gramática correta, neste caso, é irrelevante. Bom, falamos de um poeta e ninguém melhor do que ele para conhecer as palavras.
Mas a história de Moisés é muito maior. Não contente em disseminar a cultura mato-grossense (também é compositor de inúmeras músicas, no melhor estilo do Mato Grosso. O Rasqueado) o homem teve força e estômago para se infiltrar na política. Já foi Secretário de Cultura. Mas não pense que Moisés é político. Já contei a vocês, que Moisés é poeta e o poeta é feito de sabedoria. Disse uma vez que “O homem é quem dignifica o cargo, não o cargo o homem!”. E este homem não diz nada da boca pra fora, porque assumir a poesia significa se responsabilizar por suas atitudes perante a vida. Cito outro poemeto seu para comprovar o que digo. “Os homens digladiam-se no poder, quando poderiam dividi-lo. Tornando-se poderosos”.
Reprodução
A poesia de Moisés Martins musicada e cantada por Pescuma no clássico "Sentimento Cuiabano".
Moisés entende que o crescimento só é real, quando todos crescem juntos e compartilhar é algo que ele (como poeta) sabe fazer muito bem. E que você deveria fazer também.
Há algo que não contei sobre Moisés. Ele é Dentista. Surpresa?
Surpreso ele fica (e eu também) com a ignorância do homem, frente à natureza, da qual ele faz parte, mas ainda não entende. Moisés é um defensor da vida e como mato-grossense, defende com unhas, dentes e letras o pantanal, região que conhece muito bem.
Disse uma vez, que “O maior bicho do Pantanal, é bípede, carnívoro e fala!”. O grande problema é que uma parte desses bichos, só se concentra na carnificina e pouco sabe sobre a fala. Mas Moisés, como poeta, carrega o dever de falar o que observa. E diz com um peso na fala. “O tiro entre os olhos da pintada é o buraco negro do Pantanal!”.
Dayanne Dallicani
O poeta Moisés Martins durante o evento no Palácio da instrução em março de 2012
Moisés não teme apenas a agressão do homem contra os bichos do mato, mas também do homem contra o próprio homem. Quando indaga “Será que somos mais felizes do que os índios que expulsamos, tomando-lhes o lugar?” e conclui com temor que “Os índios também eram pantaneiros! Esse é meu grande medo. Dos pantaneiros também virem a ser um verbo no passado”. O poeta é um observador e em suas andanças pelo pantanal amado, Moisés viu que “O chicote do pantaneiro no ar é um beliscão no vento!”. Bom, seus livros “Poemas em frase” e “Do cerrado, Pantanal ao cosmo; Um passeio poético” deveriam ser guias turísticos, pois ensinam o respeito devido á natureza e consequentemente á vida.
”A vida só é luta, quando a transformamos em guerra. Quando a vivemos ela tem o colorido da paz”. Sabedoria é aprender com a vida. E Moisés nos ensina em poucas linhas muitas coisas sobre ela, sobre o amor e o ódio, por exemplo, diz:“Amor. Liberdade da doação”. “Ódio. Falta de coragem para praticar o amor”.
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