Alteração no regulamento, que permite mineração e hidrelétricas em torno do Cristalino, sequer foi votada pelo Conselho Consultivo ontem.
ARQUIVO/DC
Com 184 mil hectares, o Cristalino é um dos mais importantes mananciais de biodiversidade em toda a Amazônia
RODRIGO VARGAS
Da Reportagem
Em uma sessão tumultuada, a Sema apresentou ontem a versão revisada do plano de manejo do Parque Estadual do Cristalino (localizado entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, no extremo-norte do Estado).
A alteração no regulamento, que permite a implantação de empreendimentos de mineração e geração de energia hidrelétrica no entorno da unidade, não foi sequer colocada em votação pelo novo Conselho Consultivo do parque: foi apenas comunicada aos presentes. Das dez entidades convidadas para compor o conselho, nove tomaram posse ontem. A composição do grupo, definida pela SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente), excluiu entidades que participaram do processo de construção do plano de manejo.
"Não fomos convidados, mas participamos mesmo assim. E solicitamos a vaga da entidade que não compareceu, o que foi negado no momento da apresentação do novo plano", disse Laurent Micol, coordenador executivo do ICV (Instituto Centro de Vida).
Segundo ele, os representantes da secretaria não abriram a oportunidade para a discussão da mudança proposta de abertura às mineradoras.
"A Sema simplesmente informou que reavaliou este aspecto do plano de manejo, supostamente a partir de uma demanda dos municípios", disse.
Com 184 mil hectares, o Cristalino é um dos mais importantes mananciais de biodiversidade em toda a Amazônia. O trabalho de produção do plano de manejo identificou mais de 500 espécies de aves – 50 delas endêmicas, ou seja, de distribuição geográfica restrita.
Em entrevista publicada ontem pelo DIÁRIO, o superintendente de biodiversidade da SEMA, Cláudio Shida, disse que o objetivo da alteração seria "atualizar" as regras de uso e ocupação do entorno.
"Muitas prefeituras e empresas interessadas em investir na região vinham pedindo essa alteração. A mineração, por exemplo, deixará de ser totalmente proibida para se tornar possível, desde que com licenciamento e aprovação do conselho", disse o superintendente.
Para Micol, a alteração deve ser combatida, pois representa um sinal de perigo para todas as unidades de conservação do Estado. "Além do impacto sobre o Cristalino, nosso receio é que isso crie um precedente para outras unidades."
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