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18 de maio de 2014

ERCILIO LUCIO, SEO CILAS BALAEIRO DE SANTA ROSA DE VITERBO, ESTE FOI UM GRANDE HOMEM

Foto do Sr.Ercilio Lúcio, Seo Cilas Balaeiro

Eu sou o Geraldo Donizeti Lucio, nascido no município de Santa Rosa de Viterbo no interior de São Paulo, 70 km próximo de Ribeirão Preto.

Mas não vou escrever ou falar de mim, e sim de meu saudoso e querido pai, Sr. Ercílio Lúcio, profissão balaeiro, (artesão), ele ganhava a vida fazendo cestas, peneiras, balaios, vasos e até chapéus de bambu, habilidades que herdou dos meus avós (seus pais), para o meu pai fazer balaios era um Ofício, ele se intitulava, "Oficial da Arte de Tecer  em Bambus", esta foi a profissão que meu pai usou para ganhar e viver a vida,  Seo Cilas Balaeiro foi  um bom homem.

Este ofício ele ensinou para todos os filhos, eu e o meu irmão José Carlos aprendemos como ele, particularmente tenho orgulho de dizer que sei a arte e o Ofício de tecer com fibras de bambú.

Ele era originário de Minas Gerais, cidade de Três Corações, de onde saiu com o meu avô, José Lúcio, e foi morar na Fazenda Amália, no município de Santa Rosa de VITERBO, quando ainda era jovem com seus 21 anos, onde chegou a ser funcionário das Família Matarazzo no Grande Palacete, época em que as vezes ia para capital (São Paulo) para ajudar e nas festas da família como copeiro, trabalhou também no Fórum da cidade de Santa Rosa de onde saiu com problemas sério de saúde, Sr. Cilas balaeiro como era conhecido na Fazenda Amália conheceu Dona Maria da Silva Lúcio, minha mãe, onde ela residia com meus avós Dona Iria e Sr. Avelino, por coincidência ela também vieram de Minas Gerais do município de Três Pontas e ambos foram criados nesta mesma região, por Varginha afora.

Como o destino pertence a Deus eles vieram a se encontrar e se conhecerem na Fazenda Amália em santa Rosa de Viterbo e ali se casaram e tiveram 07 filhos, Maria Aparecida (Nenê), José Carlos, (Zé Carlos), José Fina (Zé Fina), Ana, (in’memória) eu Geraldo (Gê), Isabel (Bel) e Sebastião (Tiãozinho) (in’ memória), hoje são 05 vivos e meus pais também não estão mais em nosso meio minha mãe faleceu no ano de 1998 e meu pai no ano de 2001, foram ótimos pais e cidadãos Santa-rosnasse, apesar de não terem nascidos nesta cidade.

Meu pai era uma espécie de topa tudo e faz tudo, nos quesitos saberes e fazeres ele era campeão, não ganhou muito dinheiro com o que sabia e fazia mas com certeza deu a cada um de seus filhos uma vida digna, nos ensinou a ser honestos e a trabalhar, ele consertava: Bicicletas, relógios, ferro elétrico, rádio, fazia muitos serviços na construção civil, conhecia e muito de agricultura, inclusive sempre manteve em nosso quintal uma exuberante horta e um viveiro de mudas em que vendia in’loco e nos colocava para vender nas ruas da cidade, verduras e mudas, de uva, figo, limão, manga, laranja, cajú e outras. Nas horas vagas ele era músico, tocava, violão, cavaquinho, bandolim, flauta transversal e doce, sanfona e percussão, e digo mais era canhoteiro, em minha casa eu a Nenê e o José Carlos aprendemos a tocar violão com ele.

Como um velho e bom mineiro, meu pai era um exímio contador de história e causos, as vezes ele ficava horas e horas em frente a nossa casa rodeado de parentes e amigos contando histórias da vida real e outras fictícias, em alguns causos tinham o dedo dele, ele inventava estórias, quando ele começava a falar de um assunto e passava as mãos na cabeça várias vezes era porque estava querendo arredondar a estória com a sua própria versão.

Seo Cilas como era conhecido foi uma figura histórica na cidade, tanto é que homenagearam ele dando o nome de uma quadra de Bocha no Bairro (Nosso Teto) em que morávamos e que ainda residem meus irmão, José Carlos, Nenê e Isabel, todos casados e com filhos, a José Fina com seu esposo Vicente e Filha Ádria, juntamente com o filho da Nenê (Carlos Cesar, sua esposa Ana Paula e filha Samara) estão em Cuiabá onde residem e trabalham.

Minha mãe (Dona Maria da Silva Lúcio) era uma batalhadora, em casa fazia todas as atividades do lar e por vários anos lavou roupas para fora para ajudar o meu pai no orçamento familiar, foi assim até a Nenê, José Carlos, José Fina, eu (Geraldo) e a Isabel, começarmos a trabalhar, daí ela teve um pouco de folga, trabalhava pra fora aleatoriamente segundo ela para poder comprar as suas coisinhas, pois o seu perfil sempre foi de uma mulher que se preocupava com o lar e com a família, era uma mestre em cozinhar, a comida da minha mãe é insubstituível até hoje eu ainda não comi uma igual, com todo respeito aos dotes culinários de minhas irmãs, da Naja, da Keka e da Geisa, mas, a Dona Maria da Silva Lúcio que hoje descansa juntamente com o meu pai nos braços de Deus era mais ela na cozinha, detalhes meu “irmão” era comida mineira, daí sem discussão, comida mineira é comida mineira, e o resto são as de outros estados da federação, " se  bem que a comida cuiabana  tem o seu diferencial, no peixe sendo uma gastronomia muito apreciável e boa".

Meu pai era um negro, de olhos verde, cabelos carapinhos e com muita história para contar sobretudo sobre a escravidão negra em Minas, São Paulo e pelo Brasil.

Quando eu era criança, meu pai me ensinou a valorizar a nossa cor e a nossa raça, mas as vezes para amenizar um pouco os impactos, daqueles que ainda usam de discriminação quanto a cor e raça, eu falava que meus pais, meus irmãos e eu éramos morenos, tudo bem, nos temos a pele realmente morena, um pouco mais clara digamos assim, mas, não era vergonha eu acho que era receio e medo de sermos chamados de negros e discriminados.

Mas quando eu cresci e comecei a ver, estudar e pesquisar o contexto das cores e raças pelo Brasil e pelo Mundo, pude ver que somos sim negros e passei a ser um pesquisador e batalhar pela causa dos Negros em Mato Grosso e pelo Brasil, na minha área de trabalho tenho uma Proposta de Projeto de Etno Turismo Quilobola, um Circuito Integrando todo o Estado de Mato Grosso que tem mais de 57 Comunidades Remanescentes de Quilombolas.

Saudoso Silas Balaeiro, grande homem, grande figura, que em vida pode fazer muitos amigos, e que depois de morto deixou para os seus filhos e amigo um legado de honestidade, perseverança, confiança, fé, e sobretudo de um ótimo pai de família.

Saudades de seu filho Geraldo Donizeti Lucio !

Seo  Cilas,  Gessica e Tales ainda crianças e  Geraldo Lucio no ano de 1993







Dona Maria, Seu Cilas e Usiel 

Familia do Seo Cilas em Santa Rosa de Viterbo no ano de 1989


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