Entre ganhos diretos e indiretos, quem precisa da rodovia espera por redução de custos e tempo de viagem e aumento da segurança e da competitividade
Expectativa em MT é de que especialmente soja e milho sejam os maiores beneficiados pela ‘nova 163’
MARIANNA PERES
Da Editoria
A concessão da BR-163 à iniciativa privada, e a consequente transformação da rodovia nos próximos anos, terá impacto positivo para a economia mato-grossense, como a redução de custos e do tempo para escoamento da produção agrícola e aquisição de bens de consumo e matérias-primas. Pelo menos essa é expectativa dos transportadores, bem como dos produtores rurais que há anos enxergam nessa rodovia o melhor caminho para acessar os portos do Norte do país e assim encurtar a viagem das mercadorias, especialmente da soja, a mercados como o chinês.
Mesmo antes de a rodovia estar de fato concluída, um levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que a economia real no custo com o transporte deverá ser de 11%. Isto é, mesmo com o pedágio, os gastos fixos e variáveis com essa logística terrestre serão menores se comparados aos atuais desembolsos e condições de tráfego.
Desde março deste ano, a BR-163 em Mato Grosso, no trecho entre a divisa com Mato Grosso do Sul e Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá, Mato Grosso), está concedida à Rota do Oeste, empresa que passou a ser responsável pela execução de obras e serviços ao longo da rodovia nos próximos 30 anos. Entre as benfeitorias a serem realizadas, está a duplicação de 450 quilômetros da rodovia, recuperação e conservação da malha viária existente e implantação de serviços aos usuários, como atendimento médico, guinchos, inspeção de tráfego, bases de atendimento ao longo da rodovia, entre outros. Ao todo, R$ 5,5 bilhões serão aplicados, sendo R$ 2,8 bi nos primeiros cinco anos.
De acordo com o levantamento do Imea, a expectativa é de redução tanto para o custo fixo, por conta do aumento da produtividade trazida pela queda do tempo de deslocamento, quanto para o variável, com o menor consumo de combustível e de desgastes dos veículos. A estimativa é de que a redução líquida, já descontados os valores do pedágio, seja de 11%.
“O trecho mato-grossense da BR-163 é um dos principais corredores para o escoamento da produção do agronegócio. Ou seja, é hoje uma das mais importantes vias da exportação nacional. A duplicação e a manutenção adequada da rodovia têm influência direta nos resultados obtidos tanto pelo pequeno produtor, como pelas multinacionais”, afirma o diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz.
O último relatório do Movimento Pró-Logística, formado por entidades representativas dos setores produtivos de Mato Grosso, mostra que o custo do transporte rodoviário chega a US$ 145 por tonelada. O cálculo é feito com base nos valores da safra 2013/2014, no percurso entre o município de Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá) e o porto de Santos, em São Paulo. Mas além da redução de custo, há também a economia de tempo. Segundo Edeon Vaz, a expectativa é que a duplicação da BR-163 represente uma queda de até 20% entre o tempo de deslocamento quando se compara ao que é gasto atualmente. “Isso significa maior produtividade, menor custo e mais competitividade para o produto mato-grossense”, explica.
Para o diretor-geral da concessionária Rota do Oeste, Paulo Meira Lins, a transformação pela qual a BR-163 passará irá também ampliar as possibilidades de mercado para o Estado e para o país. “Mato Grosso tem um potencial de crescimento tremendo, mas com déficit de infraestrutura flagrante. Este é o principal motivo por termos apostado neste Estado”.
RENDA E PRODUÇÃO - O produtor de soja do município de Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá), Julio Cintack, acredita que não serão apenas economia de custo e de tempo os benefícios da concessão, como também uma oportunidade de crescimento. Como explica, o alto valor gasto com frete, reduz a renda do produtor e, consequentemente, sua capacidade de investimento. “Com a duplicação da BR-163 até Cuiabá e, no futuro até o Pará, vamos diminuir nosso custo logístico. Esta receita se transformará em investimentos, seja em produção ou em tecnologia”, resume.
A pesquisa do Imea aponta que não só a agropecuária se desenvolverá com as mudanças na rodovia, mas também setores como a indústria e o comércio de Mato Grosso. Na análise da entidade, junto com o término da pavimentação da BR-163 até Miritituba e Santarém, no Pará, haverá um aumento no fluxo de produtos da Zona Franca de Manaus, que tem como destino o sudeste do país, além dos produtos da nossa pauta de exportação.
PEDÁGIO - Outro fator que não entra nas contas econômicas, mas que gera expectativa positiva é o aumento da segurança dos usuários da rodovia. O produtor Julio Cintack afirma que mais do que tempo e dinheiro, vidas serão poupadas e isso tem um valor imensurável. “Todos os dias vemos acidentes na BR-163. A duplicação não vai trazer só agilidade, mas segurança a todos que precisam utilizá-la”.
Além da duplicação, com a concessão da BR-163 outros serviços serão disponibilizados aos usuários para oferecer mais conforto e segurança. A cobrança de pedágio na BR-163, por sua vez, está prevista para começar após a conclusão da duplicação de, ao menos, 10% do trecho de 453 quilômetros de obras sob responsabilidade da concessionária. Também é uma obrigação a prestação dos serviços de atendimento. A tarifa de pedágio foi, inclusive, fator determinante no processo de concessão da rodovia. A Rota do Oeste venceu o leilão, pois ofereceu a menor tarifa, de R$ 2,638 para cada 100 quilômetros, o que representou um deságio de 52,03% em relação ao teto de R$ 5,55 estabelecidos em edital pelo governo federal.
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