Chico Valdiner/Secom/MT
Ale Arfux e a História do "X-Bagunça"
Aos 24 anos, depois de trabalhar nas Casas Pernambucanas e aventurar-se no ramo de armazém de secos e molhados, Ale Arfux quebrou. Uma noite, sonhou que estava se mudando de Corumbá (MS) para Cuiabá. Fez uma rápida sondagem e decidiu se estabelecer na cidade. Chegou na capital mato-grossense no dia 15 de março de 1973 com 24 anos, um trailer, um cardápio e o Raul, um chapeiro que sabia fazer lanches. Além de introduzir toda a linhagem de sanduíches feitos de hambúrguer nos hábitos da cidade, Ale também criou o mais conhecido dos lanches cuiabanos: o X-bagunça. Três meses depois de lançar o Hot Dog Gato Frio, como denominou sua lanchonete, havia pago as dívidas e comprava um carro da Chrisler, um doginho, zero quilômetro.
De lá pra cá, criar restaurantes inovadores foi uma constante na vida dele. Foi o dono do Galeto na Brasa, Maria Fumaça, Paçoca de Pilão, Cachara na Brasa, Magestic, Papa-pizza e atualmente pilota, numa mesa próxima ao caixa e de frente à televisão, a Mafia Pizzaria. Uma das suas maiores satisfações é a manutenção de funcionários. O atual maitre do seu restaurante trabalha com ele há 33 anos e rivaliza com a principal cozinheira, que há 32 anos é funcionária dos seus restaurantes.
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Ale Arfux e a História do "X-Bagunça"
“Meu primeiro contato com Cuiabá foi por meio de Luiz, um cuiabano que trabalhava comigo nas Casas Pernambucanas. Eu brincava muito com ele e com o sotaque tradicional”, revela. Quando assumiu um armazém de secos e molhados que pertencia a um tio que havia mudado para Campo Grande, não deu certo. “Uma noite, quase no desespero pedi a Deus para me apontar um caminho. Sonhei que estava vindo para Cuiabá e não tive dúvidas”. Veio conhecer a cidade e percebeu que a única lanchonete que tinha aqui era o Hawaí Lanches, que só fazia os lanches tradicionais, misto e bauru.
Retornou a Corumbá e procurou Mauro, um amigo que tinha um trailer na cidade, e decidiu fazer o mesmo em Cuiabá. Arrumou dinheiro, um terreno na prainha que pertencia à Casa Orlando e ali estacionou o trailer. “Também mandei fazer umas bandejas com suporte para pendurar no vidro do carro e com isso o sanduíche, que era novidade na cidade". Não demorou 30 dias para virar um point da juventude. “As pessoas que iam ao Sayonara ou ao Balneário, antes de começar a noite e depois da festa passavam pelo trailer que abria às quatro horas e frequentemente ficava aberto até as cinco horas da manhã”, recorda.
O X-bagunça surgiu por inspiração de Érico Preza. “Um dia ele chegou e pediu para fazer um lanche diferente. Então coloquei no pão o hambúrguer, a salsicha, o bacon, o queijo, presunto, ovo, alface, tomate e maionese. Falei que ia fazer uma bagunça pra ele e a coisa pegou”, relata. O sanduíche virou o carro chefe da lanchonete que vendia em média 300 lanches por dia e num carnaval Ale Arfux conta que chegou a preparar 1.200 sanduíches numa única noite. "Foi uma vez só, mas foi o recorde". Ele recorda que o X-bagunça era um lanche substancioso e que com a crise econômica se transformou no baguncinha, que tem os mesmos ingredientes, mas tudo pela metade.
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Numa época em que não se falava em comida de rua, hoje uma moda em todo o mundo, os casais de namorados chegavam, encostavam o carro e piscavam o farol para serem atendidos. “Num caso destes um garçon, recém-chegado do interior e que não conhecia direito os produtos, estava atendendo um carro que não parava de piscar o farol. Por duas ou três vezes ele voltava e dizia que o cara só falava para voltar “mais tarde”. Ale na quarta ou quinta vez desconfiou e resolveu atender o freguês, ao abordá-lo ele explicou que já havia pedido várias vezes a mostarda e o atendente não a trazia. “Ele entendia a mostarda como mais tarde”.
Histórias como esta Ale colecionou aos montes e conta com satisfação. “O Zé Bolo flô era um freguesão. Todo dia ele ia buscar o X-bagunça que eu dava. Certa vez ele ficou uma semana sem ir e quando foi, comeu o primeiro sanduiche e pediu o segundo. Aí eu falei que era um só e então ele fez as contas: argumentou que ficou sete dias sem vir e que tinha direito a mais seis”, contou. Algum tempo depois Ale foi procurado pelo Expedito Sabino e foi convencido a fornecer refeição para Jorilda, Nair, Nadir e Juarez Sabino, para fortalecer os atletas. Jorilda, naquele ano ganhou a São Silvestre.
Ale que também trouxe para Cuiabá a pizza com borda recheada, encara com alegria sua trajetória na gastronomia cuiabana e não dispensa o futebol todas as quartas feiras. “Sou dono do campo, da bola e do uniforme, tenho escalação garantida”, brinca. Seus dois filhos mais novos praticam o futebol na escola do Flamengo, o time do coração, sempre sob o olhar atento da mãe, Eclecy Farias Arfux, considerada a melhor franqueadora no Brasil da Porto Belo, que trabalha com o piso porcelanato.
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