“Peixe tinha mais. Muito peixe. Demais de peixe. Tinha rede de arrastar. Pegava muito peixe, dava prá fazer fartura, de fazer azeite. Prá comer, prá alumear a casa. Que hoje não tem mais isto. Acabou”. A declaração pode ser atribuída a qualquer cuiabano que presenciou o tempo em que peixe era encontrado em abundância por estas redondezas.
A explicação para a estreita ligação entre o peixe e o cuiabano é cultural. Registra a história que no século XVII, época do descobrimento de Cuiabá, o que mais se via por aqui era peixe. E como também conta a história, a dificuldade era enorme para a chegada de alimentos à capital. Talvez seja essa a justificativa mais simples para a preferência pela mojica de pintado, comida que segundo o estudo realizado pela UP-Unidade de Pesquisa é a "cara" de Cuiabá.
Também revelam alguns tradicionais cuiabanos que a produção de mandioca foi uma das primeiras a ser registradas por aqui. Então... nasceu a mojica - a mistura de pintado com mandioca.
De acordo com Odélio Dias de Moura, proprietário de uma das mais tradicionais peixarias de Cuiabá, a “Popular”, há cerca de 50 anos, a mojica era bem diferente de hoje - temperada apenas com limão e sal e tinha o caldo branco. Atualmente, o prato está mais requintado e apetitoso. Tanto que só na hora do almoço a peixaria de Odélio chega a consumir 30 quilos de pintado no preparo da mojica. “O segredo é a mandioca”, diz o comerciante. Segundo Odélio de Moura, algumas pessoas jogam o caldo da mandioca fora e por isso a mojica não fica engrossada.
E para quem está a fim de comer uma caprichada mojica de pintado neste feriado, vale a pena prestar atenção nas dicas para nunca mais dizer que não sabe preparar o prato. Conforme Odélio, fazer a mojica não é complicado e leva um tempo máximo de 20 minutos. A fim de cozinhar o prato para um farto almoço são suficientes 4 quilos de mandioca e 3 de filé cortado de pintado. Odélio conta que é preciso picar o peixe em cubinhos. A seguir, tempera-se com alho, sal e cheiro verde (coentro, cebolinha, cebola de cabeça).
Leva-se o peixe ao fogo para refogar, tendo colocado nele um pouco de massa de tomate além dos outros temperos. Enquanto isso a mandioca também cortada em cubinhos do tamanho do filé de pintado, também já deve estar sendo cozida. Logo depois que o peixe foi “suado”, despeja-se a água onde foi cozida a mandioca sobre o pintado. Depois é só acabar de cozinhar o peixe e no final colocar a mandioca bem cozida sobre o pintado.
O acompanhamento pode ser um simples arroz branco ou também pirão e farofa de banana. E a preferência pela mojica não se restringe aos anônimos. “É governador, ministro e muitas outras autoridades que também são fãs da mojica”, revela Odélio Moura, que há 14 anos prepara de segunda a segunda o tradicional prato cuiabano.
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