4 de novembro de 2017

Dá para saber se haverá mais peixes ou plásticos nos oceanos em 2050?


Um preocupante relatório, calculando que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos, foi divulgado recentemente pela Fundação Ellen MacArthur e o Fórum Econômico Mundial.

Por Leo Hornak – Da BBC News

Chamado The New Plastics Economy (“A Nova Economia do Plástico”, em tradução livre), o relatório estimou que, no ritmo atual, os mares terão, em termos de peso, mais plástico do que peixes na metade deste século.

O relatório ganhou as manchetes de vários jornais, mas acabou sendo questionado e levantando a questão: como medir a quantidade de plástico e como contar os peixes?

O problema é que o próprio relatório reconhece que é difícil fazer uma medição precisa nos dois casos.

No caso dos plásticos, o estudo faz referência a um levantamento publicado em 2015 por Jenna Jambeck, professora da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos. Ela tentou fazer um censo global da poluição por plásticos e estimar o quanto disso vai parar nos oceanos.

O estudo de Jambeck analisa estimativas do total de lixo em todos os países que não são totalmente cercados por terra e, a partir disso, estima o quanto deste lixo pode ser plástico, o quanto é reciclado e assim por diante.

Mas para estimar o quanto deste plástico vai parar no mar, o estudo levou em conta apenas uma área – a Baía de San Francisco (EUA).

“Isso não representa o resto do planeta, então você pode ver o potencial para grandes divergências neste cálculo”, criticou o professor Callum Roberts, da Universidade de York, na Grã-Bretanha.

O que a Fundação Ellen MacArthur fez foi pegar a pesquisa de Jambeck, que faz previsões apenas até 2025, e projetar essas estimativas até 2050.

Implícito

Sendo assim, quanto plástico teremos nos oceanos em 2050?

Surpreendentemente, isso não é especificado no relatório, mas este deixa implícito que haveria um total de 750 milhões de toneladas de plástico nos oceanos na metade do século.

Quanto à estimativa dos peixes, o relatório não estima um número de toneladas esperadas de peixes nos mares em 2050 e não cita pesquisas sobre essas populações.

No entanto, um diagrama no relatório prevê uma proporção plástico/peixes de “maior do que 1:1” em peso em 2050.

Questionada pela BBC a respeito de seus números, a Fundação Ellen MacArthur enviou um documento chamado Background To Key Statistics e também uma nova versão do relatório publicada em 29 de janeiro deste ano. Os dois documentos trazem novos dados (nenhum dos autores estava disponível para entrevistas).

A Fundação atualizou o número de peixes no mar em 2050 para cerca de 899 milhões de toneladas.

Mas também aumentou a estimativa para a quantidade de plástico no oceano em 2050 para entre 850 milhões e 950 milhões de toneladas, ou cerca de 25% a mais do que originalmente previsto. Então, apesar de haver uma quantidade um pouco maior de plástico no mar em 2050, segundo estes números, a proporção continua sendo de um para um.

No entanto, eis o problema real: contar peixes é algo complicado.

Os novos cálculos da fundação são baseados em um estudo de 2008 liderado por Simon Jennings, do Centro para Meio Ambiente, Pesca e Ciência da Aquacultura do Reino Unido. A equipe dele usou imagens de satélite para medir a extensão de plantas microscópicas conhecidas como fitoplâncton em todos os oceanos do mundo.


Imagem de satélite mostrando quatro tipos diferentes de fitoplâncton

Pelo fato de os fitoplânctons serem tão abundantes, eles alteram a cor da superfície do oceano em grandes áreas, e essas mudanças podem ser vistas do espaço.

E como quase toda a cadeia alimentar marinha é dependente do fitoplâncton, este dado por ser usado para estimar o total de toneladas de peixes vivendo nos mares. É desse trabalho que vem o número da Fundação Ellen MacArthur, de 899 milhões de toneladas de peixes.

Revisão

No entanto, em 2015, Simon Jennings reviu seu próprio estudo e chegou a uma conclusão muito diferente. Ele disse à BBC que agora ele acredita que o fitoplâncton pode, potencialmente, sustentar quantidades muito maiores de vida marinha do que ele pensava anteriormente.

O novo estudo não diferencia entre peixes e outros predadores marinhos, mas conclui que pode haver entre 2 bilhões de toneladas e 10,4 bilhões de toneladas de criaturas marinhas nos oceanos.


Lixo plástico recuperado do mar em um local de reciclagem em Valência, na Espanha

“No momento não temos confiança absoluta em nossos métodos para determinar qual a proporção (desse volume) é formada de peixes. É um número muito incerto para prever”, afirmou o pesquisador.

A previsão da Fundação Ellen MacArthur das previsões para plásticos também merece atenção.

Jenna Jambeck, que liderou o estudo sobre poluição por plásticos citado pela fundação, disse à BBC que não estava estava confiante com o método da fundação, de projetar os números de seu trabalho de 2025 para 2050.

Então: quanto de plástico há nos oceanos e quanto vai haver em 2050? Não se sabe, mas provavelmente é muito. Quanto de peixe? Também não sabemos, mas com certeza é muito.

E quando um vai superar o outro? Definitivamente não se sabe. Mas todas estas questões trazem à tona um problema muito real: sabemos que o plástico, quando vai para os oceanos, pode levar séculos para se decompor, e seu volume está em constante crescimento.

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