Mato Grosso não atrai turistas porque é caro, ou é caro porque não atrai turistas?
Mirella Duarte - da Redação
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Nobres é mais do que bonito, é também muito caro
O estado de Mato Grosso não atrai turistas porque é caro, ou é caro porque não atrai turistas? Eis a questão que se coloca para quem se dá ao trabalho de fazer uma pesquisa de preços de hospedagens e passeios aos principais atrativos turísticos do estado. O LIVRE fez uma rápida pesquisa e constatou que o turismo em Mato Grosso é um dos mais caros do país, quiçá (proporcionalmente) do mundo.
Mato Grosso possui principalmente atrativos naturais, dada a sua riqueza em fauna e flora representadas no Pantanal, na Floresta Amazônica e Cerrado. Sua geografia proporciona as trilhas em paisagens naturais, pesca esportiva, flutuação em aquários e cavernas com piscinas cristalinas, aventuras em caiaque, circuito de cachoeiras ou safari. Desfrutar de tudo isso, porém, pode sair mais caro do que viagens para outros países da América Latina e da Europa.
Um passeio de sete dias para a região de Nobres, por exemplo, pode chegar a R$ 2.590 para o casal. A hospedagem na Pousada Reino Encantado, com clima e "conforto" de fazenda, custa (a diária) R$ 195 para o hóspede indivual e R$ 270 para o casal. Só o café da manhã está incluso, mas a pousada indica o almoço e jantar em estabelecimentos próximos, que somam em média R$ 80 por pessoa e R$ 160 o casal.
Os passeios, que também não estão inclusos, são oferecidos por guias de turismo, que cobram à parte. Há opções de visitas ao aquário encantado, por R$ 75 por pessoa, cachoeira da Serra Azul (R$ 70 por pessoa), Cavernas Caia (R$ 50 por pessoa), flutuação no Rio Salobra por R$ 60 (pessoa) e balneário (só para banho) por R$ 15 (por pessoa). Total do passeio de sete dias em Nobres: R$ 2.195 para quem viaja sozinho e R$ 2.590 o casal. Já se o casal possui filhos a conta salga ainda mais - e é importante mencionar que não estão nesse cálculo os custos para se chegar a Nobres.
De Nobres nos dirigimos para o Pantanal Mato-grossense, onde pousadas como a do Sesc Pantanal ou a Piuval oferecem hospedagem com o valor individual na faixa de R$ 395 a diária e, para o casal, preços que variam entre R$ 512 e R$ 590 a diária. Em ambas as opções estão inclusas três refeições ao dia, mas não estão contabilizados passeios como andar de barco ou a cavalo (R$ 70 por pessoa) e safari noturno (R$ 300 para até 10 pessoas). Fechando as contas, se a opção for uma viagem sem companhia, uma aventura pantaneira com os passeios citados, durante sete dias (e sem incluir passagens e refeições extras), o investimento é de no mínimo R$ 3.205. Já se for uma viagem de casal, a estimativa sobe para R$ 4.024.
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Guias e hotéis oferecem passeios a cavalo, de safari e barco no Pantanal - todos cobrados separadamente
O LIVRE pesquisou também os preços do turismo em hotéis badalados, como o Malai Manso Resort, que fica às margens do Lago do Manso. O resort só reserva a partir de duas diárias, mesmo que a viagem seja individual, e o valor da diária mínima é de R$ 1.089 (por pessoa), mais 2% de taxa de ISS. Assim, passar sete dias sem companhia no resort paradisíaco somam a dívida de R$ 7.623 (mais as taxas). Para duas pessoas, a diária é de no mínimo R$ 2.221. Em uma semana a conta sai R$ 15.550 (mais taxas).
No Malai Manso estão inclusos no preço atividades como tirolesa, arvorismo, trilha de arquitetura, parede de escalada e prática de arco e flecha. Passeios náuticos e spá não estão inclusos, pois são feitos através de empresas terceirizadas e a equipe do resort não informou os valores aproximados.
Já para quem quer curtir a Região Amazônica e observar animais nativos da região, o Hotel Cristalino Lodge, localizado em Alta Floresta, propõe a diária que varia entre R$ 1.220 e R$ 2.300, mais acréscimo de R$ 230 por estada. A oferta inclui passeios com guias de turismo e equipamentos, barcos e canoas, três refeições diárias e acesso à reserva natural do Cristalino Lodge. No período de sete dias, uma pessoa tem o gasto mínimo de R$ 8.770. Na opção casal, o investimento aumenta para, no mínimo, R$ 18.000.
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Hotel Cristalino Lodge, um dos espaços mais caros de Mato Grosso, oferece passeios pela Floresta Amazônica
Sem comparação (mas já comparando...)
Sem entrar no mérito sobre se os passeios em Mato Grosso valem ou não a pena, o fato é que os preços não seduzem nem quem compara com viagens para a Europa. Em outubro do ano passado a cuiabana Brenda Castro fez uma ‘trip’ para Europa com duração de 9 dias, visitou quatro países (Espanha, Portugal, França e Itália, hospedou-se em cidades como Veneza, Roma, Paris, Lisboa e Barcelona, e gastou, em passagens de ida e volta e hospedagem, R$ 3.500. A viajante disse ao LIVRE que teve gastos com passeios e se surpreendeu com a qualidade dos produtos, serviços e preços acessíveis do outro lado do oceano.
“Ir ao Vaticano e coliseu me custaram 70 euros [equivalentes a R$ 275], mas comer foi barato. Gastei uma média de 40 euros [R$ 157] por dia na Europa. Onde mais gastei foi em Paris: 150 euros [o equivalente a R$ 590]. Paris é um dos lugares mais caros da Europa, mas comprei presentes e chaveiros que custaram 50 cento de euro [equivalente a R$ 1,97], em algumas lojas promocionais como a Primark. Em Lisboa, no bairro alto, cheguei a pagar em um chopp de 500 ml o mesmo valor que paguei em cada chaveiro em Paris”, explicou.
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A viajante Brenda Castro conheceu quatro países da Europa por preços acessíveis
Segundo Brenda, viajar pelo Brasil ainda é muito caro e, apesar da vontade de conhecer mais cidades no interior de Mato Grosso, reconhece que o investimento seria alto. “Acredito que as viagens e passeios poderiam ser mais acessíveis. Gastei com passagem de Lisboa para Paris, ida e volta, R$ 500, e aqui no Brasil tudo poderia ser mais em conta. Em hospedagem, nem se fala, é muito difícil achar uma localização boa e barata”, ressaltou.
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Joelder Pompeo fez tour em América Latina por 35 dias; total gasto: R$ 12 mil
Joelder Pompeo recentemente fez uma tour pela América Latina que durou 35 dias. Ele visitou seis países: Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Perú e Paraguai. Segundo Jelder, ele não foi muito organizado nas finanças, mas em uma análise rápida dos valores, tudo não passou de R$ 12.000, incluindo alimentação, passagens, hospedagens, passeios e excursões.
“Gastei cerca de R$ 3.000 em passagens aéreas, o mesmo valor em hospedagens, R$ 2.000 em alimentação e mais R$ 2.000 em deslocamentos dentro das cidades utilizando Uber, ônibus, barco, trem e outros. Foi mais de um mês de viagem e me mantive com tranquilidade nas cidades em que passei”, afirmou.
Joelder, que afirma já ter viajado muito por Mato Grosso, diz que os preços das viagens não são convidativos. “O turismo de Mato Grosso deixa muito a desejar, infelizmente. Mato Grosso tem um potencial enorme, porém, nem 10% são aproveitados. O governo precisa fomentar mais o turismo aqui, é uma arrecadação em potencial, é um absurdo isso ser desperdiçado”, concluiu.
Ednilson Aguiar/Olivre
Luiz Carlos Nigro, secretário-adjunto de Turismo: concorrência pequena e fiasco da Copa inflacionam o mercado
Baixa demanda
O secretário-adjunto de Turismo do governo de Mato Grosso, Luis Carlos Nigro, acredita que os altos custos de viagens para o interior do Estado podem ser atribuídos a diversos fatores, mas os principais deles seriam a pouca divulgação (o que prejudicaria o fluxo de turistas), a falta de infraestrutura e de programas que incentivem melhorias no atendimento dos estabelecimentos e estradas, por exemplo.
“As demandas são baixas e temos pouca concorrência em vários setores, o que pode inflacionar preços; turistas que vêm de fora sabem que nosso aeroporto é ruim, nossas estradas não são boas e por muitas vezes não tínhamos como trazer ônibus de turistas para cá. Tivemos um período [Copa do Mundo] muito complicado em que a cidade [e Mato Grosso] ficaram ‘queimados’ Brasil afora como destino turístico, de negócios e eventos. Tudo isso fez com que caísse a taxa de ocupação dos hotéis, por exemplo”, declarou.
O secretário afirmou que reverter uma imagem negativa é muito difícil, mas existem programas que estão sendo realizados para que o Estado explore seu potencial.
“Estamos trabalhando em conjunto com os municípios. Começamos a fortalecer mais os conselhos municipais de turismo e criamos o conselho estadual de turismo, que não existia. Os conselhos são para criar um planejamento turístico com começo, meio e fim, pois ter direcionamento nas ações é essencial. Além disso, nossos carros-chefes, atualmente, são Pantanal e Chapada dos Guimarães, pois se estes dois lugares forem formatados e organizados, eles serão os grandes irradiadores de pessoas viajando por todo o Mato Grosso. Estamos trabalhando também no programada Desenvolve MT, que aborda linhas de financiamento relacionadas ao turismo”, concluiu.
Fonte: http://www.olivre.com.br/geral/passeio-salgado-veja-por-que-o-turismo-nao-deslancha-em-mato-grosso/13631
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