19 de dezembro de 2018

Jovens Quilombolas de Capão Verde Mato Grosso participam da elaboração da Carta do Cerrado.

Os jovens Quilombolas da Comunidade Capão  Verde de Poconé Mato Grosso, Clayton mateus de campos e Natan jose de campos oliveira estiveram em Goias participando da elaboração da Carta do Cerrado.

Na oportunidade eles tiveram a rica oportunidade de apresentar as suas experiências junto ao que eles vivenciam no dia a dia em sua comunidade em Mato Grosso, "comentou Clayton" todo faceiro por ter tido esta oportunidade.

Carta do Cerrado  e I Encontro Nacional das Juventudes do Cerrado


Os jovens Quilombolas da Comunidade Capão  Verde de Poconé Mato Grosso, Clayton mateus de campos e Natan jose de campos oliveira fazem parte do Empreendimento filiado a UNISOL BRASIL e estão na Rede Solidária Mato Grosso - REDE SMT.

O Empreendimento denominado AGRIVERDE desenvolve a cadeia produtiva da banana, verticalização e agregando valores na produção. 

 Através de uma agroindústria comunitária e familiar eles fazem: Doces, balas, farinha e banana chips.

Além  da banana eles produzem outros hortifruti e vendem para o governo e nas feiras. 

Fazem tambem a extração do Cumbaru e vendem torrado e agregado nos doces e rapaduras.

A UNISOL BRASIL e o PRONATUR  através do Projeto REDE SMT tem um objetivo de potencializar a economia da comunidade com sustentabilidade, sobretudo com solidariedade.



VEJAM E DIVULGUEM O CONTEÚDO DA CARTA.

Passarinho de toda cor

Gente de toda cor

Amarelo, rosa e azul

Me aceita como eu sou”

Somos milhares. Reunidos em Hidrolândia, Goiás, entre os dias 14 e 16 de dezembro de 2018, representando todos os estados do Cerrado brasileiro, somos diversos. As Juventudes do Cerrado são preta, indígena, quilombola, feminista, camponesa, sem terra, atingida por mineração e barragens, quebradeira de coco, pescadora, vazanteira, LBGTQ+, fundo e fecho de pasto, raizeira, benzedeira, agricultora familiar, geraizeira, ribeirinha, extrativista e tantas outras múltiplas identidades que viemos aqui reforçar. A riqueza da nossa diversidade é também nossa fortaleza na construção de uma unidade disposta a conservação dos nossos territórios e modos de vida. Nossos passos vêm de longe. Fortalecemos a nossa resistência também valorizando os saberes das nossas ancestralidades, usando-os para inspirar as lutas que virão. Nesse sentido, somos sujeitos políticos que querem ser ouvidos pelos movimentos e organizações sociais como uma força política consciente de que projeto de Cerrado brasileiro queremos construir, e que estamos construindo.

O rico compartilhamento de experiências que trazemos, as lutas pela valorização das Escolas Famílias Agrícolas, nossas cooperativas de beneficiamento e produção, nossa comunicação popular, nossas articulações em rede mostram que a juventude está em movimento, desconstruindo também velhos preconceitos de que os/as jovens não estão interessados/as na construção de lutas e resistências.

Nesse sentido, repudiamos a forma como somos retratados também pela mídia tradicional que insiste em criminalizar nossa resistência, ou apresenta nossos modos de vida sempre como ultrapassados e/ou miseráveis. Lutamos pela democratização da mídia, e mais, pelo fortalecimento dos nossos próprios canais de comunicação popular.

Cientes do desafio que o atual contexto brasileiro nos traz, compreendemos a nossa missão em resistir contra o avanço sobre nossos territórios e o projeto em curso de desmonte do modelo de convivência com os biomas que acreditamos. Denunciamos o MATOPIBA como um projeto de morte para o Cerrado brasileiro, para nossas águas, nossos territórios, nossos rios, nossas florestas, nossos solos e nossa gente. O avanço predatório sobre nossos territórios tem aumentado a violência no campo. Nesse mesmo sentido, somos contra os projetos de mineração, construídos sem qualquer consulta prévia a nossas comunidades, poluem nossas águas e desterritorializam nosso povo, ameaçando-o e matando nossas lideranças. Repudiamos as ameaças que sofremos diariamente e cobramos do Estado Brasileiro um posicionamento em relação ao acirramento da violência. Também nos solidarizamos com o recente assassinato de dois companheiros, José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino, integrantes do MST Paraíba.

“Pelos nossos/as mortos/as nem um minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta!”

Nós queremos permanecer em nossa terra e conservar o nosso Cerrado. Nossa luta por permanência é também uma batalha por uma Educação do e no Campo. A Educação do Campo é uma política pública para a organização do conhecimento dos povos do campo. É uma polaridade cultural dirigida pelos povos do campo dentro de seu lugar de origem, é um processo de ressignificação da teoria e da prática na superação da escola tradicional.

Denunciamos aqui o criminoso processo de fechamento das escolas do campo no país. Apenas no estado do Piauí, 317 escolas foram fechadas nos últimos anos. A desvalorização do ensino do campo é parte de um projeto maior de uma ofensiva cultural que tenta colonizar nossos saberes nos vendendo a falsa ideia de que todo o conhecimento válido é apenas o ultra tecnológico ou vindo das grandes cidades. Por isso, somos também contra o projeto da Escola Sem Partido, porque queremos um ensino libertador, descolonizador e contextualizado que dialogue com nossas realidades. Permanecer no Cerrado é também incentivar nossos modos de produção, geração de renda e conservação do nosso bioma. Por isso, também gritamos pela valorização de uma assessoria técnica voltada para a produção da juventude, investimento em Escolas Família Agrícola (EFA’s), e políticas públicas para nosso acesso ao mercado justo e de economia solidária.

“Ninguém vai morrer de sede nas margens dos nossos rios”

O avanço do capitalismo neoliberal através dos grandes projetos do hidro e agronegócio tem roubado nossas águas. O Cerrado é o berço das águas do Brasil e nele está uma das últimas e maiores reservas de água doce do mundo. Entendemos que a apropriação dos nossos mananciais aquíferos é um crime contra toda a humanidade e que a água é um bem de todos e todas. Somos contra todos os processos de privatização das águas. Nós somos o presente e o futuro dos povos do Cerrado e é a manutenção dos nossos modos de vida que será capaz de garantir a conservação das nossas riquezas naturais.

“De que adianta territórios livres com corpos presos?”

Nós, juventudes do Cerrado, compreendemos que a liberdade de existência dos nossos povos precisa ser completa. A luta pela construção de um mundo mais justo, popular, solidário e igualitário precisa estar necessariamente conectada com a valorização e respeito das mulheres. Precisamos lutar, seja enquanto jovens mulheres protagonistas dessa luta, ou enquanto homens aliados e apoiadores desse processo, contra todas as formas de violência contra a mulher em nossos territórios, bem como de negação das nossas liberdades ou prisão da nossa sexualidade. Entendemos que a auto-organização feminista é um instrumento chave para o empoderamento das mulheres nas nossas comunidades que precisa ser incentivado.

É preciso valorizar o trabalho das mulheres e das meninas jovens, batalhar por uma justa divisão do trabalho doméstico, compreender e visibilizar a contribuição essencial das mulheres na conservação dos nossos patrimônios naturais, como as águas e as sementes, assim como seu papel numa produção agroecológica que garante soberania alimentar e nutricional para as nossas famílias.

Não podemos mais permitir a exclusão das mulheres nos espaços de liderança política em nossos movimentos, organizações e comunidades. É tempo de fortalecer as lideranças jovens mulheres, dando valor às suas contribuições, e permitindo que o poder dentro e fora dos movimentos seja compartilhado.

“O afeto te afeta?”

Em nosso Cerrado brasileiro, assim como nos demais territórios, não deve haver espaço para o preconceito. Em um ambiente de vivências tão diversas, nós, da juventude, não permitiremos que companheiros e companheiras sejam discriminados e discriminadas seja por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Para nós, é inadmissível que um dos entraves para permanência da nossa juventude no campo também seja a LGBTfobia que discrimina, mata, e violenta psicologicamente tantos e tantas de nós. Nos solidarizamos aqui com o assassinato cruel da transexual Jéssica Dias que teve seu corpo cruelmente queimado em mais um crime homofóbico.

É tempo de romper as barreiras do desamor e abrir espaço para posturas inclusivas dentro e fora dos movimentos, acolhendo as pessoas LGBTQ+, compreendo suas lutas e sabendo que elas também são parte de um Cerrado livre e para todos e todas.

Por fim, anunciamos que é tempo de união. Tempo de avançar de mãos dadas com nossos companheiros e nossas companheiras de outros biomas, das cidades, de outros países para resistir aos retrocessos. É momento de mais do que nunca, abrir caminho para a resistência da juventude, dos nossos cantos, da nossa energia e da nossa mística. O Cerrado também é sua juventude resiliente e a sua diversidade. Não temos tempo a temer, vamos juntos e juntas e respiramos luta!

A Articulação das Juventudes do Cerrado está viva, em pé e em luta!

Sem Cerrado! Sem água! Sem vida!

Hidrolândia (GO), 16 de dezembro de 2018.

Articulação Nacional das Juventudes do Cerrado.

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