O filme ‘Santo Antônio: Do Rio Abaixo à Leverger’ será lançado nesta sexta e rememora a história de um dos municípios mais tradicionais de MT
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Localizado a 27 km de Cuiabá e com uma população estimada em pouco mais de 16 mil habitantes, Santo Antônio do Leverger tem valor imensurável quando se trata da formação cultural, econômica, social e política de Mato Grosso. Não por acaso, suas inúmeras riquezas e potencialidades, bem como a história da formação e desenvolvimento do município, são abordadas no documentário “Santo Antônio: Do Rio Abaixo à Leverger”, que será lançando nesta sexta-feira (12.04), às 18h30, na Praça do Artesão, localizada no centro do município. Esta primeira exibição faz parte do projeto ‘Sesc na Estrada’.
Dirigido e roteirizado por Leonardo Sant’Ana, o filme utiliza de registros documentais, ilustrações e entrevistas para remontar toda a história de Santo Antônio, desde os seus tempos primórdios, antes mesmo do município receber este nome.
E o que guia a narrativa audiovisual, durante seus 40 minutos de duração, é a ligação umbilical entre a região e o rio. No entanto, embora seja um personagem fundamental para a construção do documentário, o rio não tem voz, todavia se comunica intimamente com os moradores locais. E estes, sim, têm voz.
“Quando se vai fazer um documentário sobre cidade, nada melhor que as pessoas da cidade”, pontua Leonardo. Assim, além de nove moradores, também são entrevistados dois pesquisadores e uma professora de história. Deste modo, a abordagem se dá “através das memórias de seus moradores e, obviamente, com o subsídio de pesquisa”, complementa.
O diretor Leonardo Sant’Anna (sentado à direita) durante a gravação do documentário
RITMO DA CIDADE NO FILME
Leonardo revela que, após o primeiro corte do filme, se sentiu incomodado porque a montagem parecia estar muito acelerada, diferente do pulsar de Santo Antônio. “A cidade tem um ritmo peculiar. É o tempo de uma cidade de interior, onde todo mundo se conhece. É o tempo da pesca. Ela tem essa dinâmica da paciência, da calma, da perseverança, da tradição”.
Ao constatar este ruído entre o tempo da cidade e o tempo do documentário, ele percebeu ser necessário novos cortes até que estes tempos fossem harmonizados. “O corte final tem essa característica na própria dinâmica, nas cenas, na duração dos planos… A gente tenta passar esse ritmo de Santo Antônio, como seria esse ritmo de vida, uma cidade pacata, simples e que a maior riqueza é o seu povo”.
Além do subsídio da pesquisa, a abordagem se dá através das memórias de seus moradores
CULTURA POPULAR VIVA
Para captar este tempo subjetivo da cidade, obviamente foi necessário passar um tempo objetivo por lá. A equipe gravou tudo em dez dias. Neste período, puderam presenciar algumas manifestações culturais locais que chamaram a atenção pela vivacidade da expressão.
Segundo Leonardo, trata-se de “um lugar onde a tradição e a cultura popular da baixada cuiabana continuam vivas e atuantes, não restringidas a grupos folclóricos, mas como prática social e cultural viva”.
Ele se refere às apresentações de siriri e cururu durante a festa de Santo Antônio, cujo registro faz parte do documentário. Leonardo relata que elas se manifestam de maneira orgânica, sem ensaios prévios. “Não tinha um grupo de cururu apresentando. Eram vários devotos de Santo Antônio tocando a viola e fazendo o cururu ali mesmo. Isso é de um valor incalculável”.
E ainda acrescenta que, além da festa do santo padroeiro da cidade, o município se destaca pelo Boi-à-Serra (manifestação cultural popular que faz parte dos festejos de N. Sra. De Conceição), além, é claro, do carnaval.
CONTEÚDO DO DOCUMENTÁRIO
Mas é importante ressaltar que o documentário não é focado apenas na riqueza cultural do município. A linha narrativa engloba vários outros aspectos, a começar pela lenda em relação à origem do lugar, também marcada pela religiosidade.
Utilizando de ilustrações do artista plástico Ric Milk, o filme começa narrando essa lenda. Na época, a região – onde hoje se situa a cidade – fazia parte das rotas das monções, e por ali passavam os barcos para abastecer as minas na Vila de Cuiabá.
Numa dessas viagens, estavam levando a imagem de Santo Antônio para a futura capital de Mato Grosso. No entanto, por ocasião do destino, a embarcação encalhou em uma das praias pelo caminho, exatamente onde viria a ser fundada Santo Antônio, e daí uma das possíveis razões para o nome da cidade, pois “o santo não queria sair dali”, brinca Leonardo.
O filme também aborda o ‘ciclo econômico açucareiro’, também conhecido como ‘Ciclo da Cana’. Neste período, Santo Antônio vivenciou um grande crescimento econômico com a chegada de usinas que se instalaram na região. Para se ter uma ideia, das 12 usinas que haviam em Mato Grosso naquele período, oito estavam localizadas no município.
Este contexto propiciou o surgimento dos chamados ‘coronéis do açúcar’, grandes latifundiários que detinham o poder econômico e político da região, cujo principal expoente é o ex-governador Antônio Paes de Barros, popularmente conhecido como Totó Paes.
Após o declínio da cana, o gado ocupa o lugar de principal produto econômico do município. “Fazendas de cana viraram pasto pra produção de gato”, relata Leonardo. A pesca é outro meio de vida que, desde os primeiros anos, se destaca no município. Estas atividades econômicas colaboraram para uma característica demográfica peculiar na contemporaneidade, uma vez que a maioria da população local mora em zonas rurais.
AS IDADES DE SANTO ANTÔNIO
Se Cuiabá, a irmã mais velha, completou 300 anos nesta semana, Santo Antônio do Leverger, o irmão mais próximo, não sabe ao certo quanto anos tem. Oficialmente, completará 119 em julho. No entanto, o município já existia desde 1835, embora batizado primeiramente como Santo Antônio do Rio Abaixo, e ainda tido como distrito de Cuiabá. Considerando essa análise, teria 183 primaveras. Sem contar que, a partir de 1722, já havia registro de títulos de doação de sesmarias, o que configuraria o início do povoamento da região, que, sob esta perspectiva, acumularia 296 anos.
PRODUÇÃO E REALIZAÇÃO
“Santo Antônio: Do Rio Abaixo à Leverger” é uma produção da ‘Terra do Sol Filmes’ e da ‘G2 Prestadora’. A realização é assinada pela Associação Mato-grossense de Inclusão Sociocultural (AMISCIM); a Assembleia Legislativa de Mato Grosso e o Governo do Estado de Mato Grosso. O Sesc Mato Grosso, por meio do projeto ‘Sesc na Estrada’, é parceiro neste lançamento.
Após o lançamento, a ideia é que o filme participe de festivais e depois seja disponibilizado ao público
SERVIÇO
Lançamento do documentário “Santo Antônio: Do Rio Abaixo à Leverger”
Onde: Praça do Artesão, localizada no centro de Santo Antônio do Leverger
Quando: 18h30 desta sexta (12.04)
Entrada: Gratuita
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