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Da Redação
Foto: Reprodução
Ele tem o tempo como companheiro inseparável e há 40 anos acerta as horas de moradores da capital mato-grossense. Sob a trilha sonora dos ponteiros ininterruptos dos relógios espalhados por paredes e prateleiras, o cearense Antônio Francisco Neto faz do seu box no Shopping Popular um atelier do tempo. É ali que o relojoeiro vive seguindo, assim como os segundos, os milésimos de segundos que nunca deixou parar na cidade.
Se andar pela Cuiabá de 300 anos temsi do cada vez mais a passos apressados, no estabelecimento de Antônio ainda é possível acertar as horas com calma e, de quebra, dar corda rumo ao passado. “Tudo começou com meu irmão mais velho. Ele era relojoeiro e, quando veio para cá, começou a trazer os demais para a profissão. Somos em dez homens e três mulheres, apenas um não seguiu no ofício – que, hoje, já conta com esposas, filhos e sobrinhos”, conta com orgulho.
Antônio relembra que, àquela época, 40 anos atrás, Cuiabá tinha contornos bem diferentes. “Quando chegamos, a Prainha – por exemplo – ainda era a céu aberto. A Avenida Mato Grosso apresentava valas e só tinha um colégio. Mas, algo que sempre nos impressionou foi que a cidade nos abraçou e nós crescemos com ela. Posso dizer que a gente contribuiu um pouco para ‘construir’ Cuiabá, que é uma capital maravilhosa”, pondera.
Ele destaca que o início da trajetória, como “pau rodado”, em solo cuiabano não foi fácil. “Ninguém conhecia a nossa família. Tínhamos que sair de porta em porta, fazer propaganda boca a boca e viajar todo o Estado. Começamos com conserto de relógios, depois ampliamos para fornituras, vendas de relógio em atacado e por aí vai. Fomos evoluindo. Tanto que não consigo calcular o número de relógios que já passaram pelas nossas mãos em quatro décadas”, ressalta.
No entanto, um acontecimento em especial não sai da sua memória: foi quando encontrou Antônia Gomes Soares que os ponteiros da sua vida se acertaram. Para além da coincidência de nomes, os dois dividem a parceria do casamento com a do ofício. “Voltei para o Ceará pra casar com ela e a trouxe para cá. Também para a profissão. Até brinco com os clientes que produzi as alianças, ‘quem casou comigo, não separa’”, comenta Antônio, que também é ourives.
Ao lado do marido há 35 anos, Antônia conta que fez da arte dos ponteiros também a sua paixão. “No início, olhava para os relógios e pensava que nunca entenderia como funcionavam. Mas, fui aprendendo no dia a dia. Isto, além de acompanhar as pessoas e histórias que passam por aqui. Às vezes, o relógio não tem valor de mercado, mas para aquela pessoa o objeto significa tudo. É preciso estabelecer uma relação de confiança”, reforça.
Em seu tempo livre, o casal – assim como muitos moradores da cidade – procuram relaxar na beira do rio. “Gostamos de pescar e acampar. Mas, o relógio não sai do braço nem durante a pescaria. Até porque ela também tem hora. É preciso saber os melhores horários para os diferentes tipos de peixe e, até mesmo, para chegar em casa e ir para a missa. Agora, de segunda a sábado, das 8h às 18h, estamos aqui no Shopping Popular”, explica Antônio
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