6 de outubro de 2019

Povo Yanomami abre visitação ao Pico da Neblina, após 16 anos



Iram Alfaia, de Brasília

 

Localizado ao norte do Amazonas, na serra do Imeri, com 2.995metros de altitude, o ponto mais alto do Brasil, o Pico da Neblina será reaberto à visitação de turistas.

A ida ao local estava proibida desde 2003 por recomendação do Ministério Público Federal (MPF) por causa do turismo desordenado e violação dos direitos dos Yanomami.

O Plano de Visitação, elaborado com a participação dos Yanomami da região de Maturacá, no Amazonas, foi aprovado pela Fundação Nacional doÍndio (Funai) na última segunda-feira, dia 30 de setembro, quando o presidente do órgão, Marcelo Xavier, assinou a carta de anuência.

Segundo a assessoria de imprensa da Funai, a iniciativa é dos próprios Yanomami que primaram por uma atividade que promovesse a qualidade de vida das comunidades de maneira sustentável e respeitosa ao meio ambiente e à terra a qual pertencem.

“A conservação da sociobiodiversidade, combate a atividades ilegais na região e a proteção da fronteira brasileira são alguns dos vários pontos positivos do turismo gerido pelos Yanomami”, diz nota do órgão.

Serão beneficiados mais de 2,9 mil indígenas das seis comunidades envolvidas.

As informações são da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA) e Associação de Mulheres Indígenas Kumirayoma que elaboraram o projeto.

Capacitação dos índios

Até chegar à assinatura da carta de anuência foram cinco anos de tratativas envolvendo a elaboração do projeto e capacitação dos índios.

Os Yanomami fizeram cursos de primeiros socorros, resgate em áreas remotas, trilhas sustentáveis e educação ambiental voltada para os cuidados com o lixo.

O projeto teve o apoio da Funai, Instituto Chico Mendes deBiodiversidade (ICMBio), Exército Brasileiro, Prefeitura Municipal de SãoGabriel da Cachoeira e Instituto Socioambiental.

“A ideia é mostrar o conhecimento das mulheres Yanomami para os napë, como nós chamamos os brancos. Apresentar a importância da floresta, da cultura e da tradição. Foi uma conquista das mulheres participar desse projeto. A assinatura da carta significa uma conquista de todos também: homens, mulheres e jovens”, afirmou Floriza da Cruz Pinto, indígena Yanomami representante da Kumirayoma.

“Anos de trabalho de indígenas e servidores agora poderão render os devidos frutos. A assinatura dessa carta em minha gestão é muito significativa. É, de fato, uma época em que os povos indígenas podem escolher as atividades que desejam promover em sua terra e nós respeitaremos e apoiaremos isso”, comentou o presidente Marcelo Xavier.

Segundo ele, a carta de anuência terá validade de dois anos. O documento define que as atividades turísticas acontecerão estritamente na localidade permitida pelos indígenas, que os turistas deverão ser certificados de que se trata de comunidade indígena de recente contato e de que a trilha envolve riscos por ser área de difícil acesso.

Parcerias  

O próximo passo das associações Yanomami é formalizar o contrato com parceiros e operadoras de turismo de sua escolha.

De acordo com o Plano de Visitação, cada expedição contará com o número máximo de dez visitantes que devem ter um bom preparo físico para encarar os oito dias de caminhada com considerável variação de altitude, de 95a 2.995 metros.

Os valores variam por número de pessoas no grupo, refeições e período de seca ou cheia. O Yaripo, como os Yanomami chamam o Pico da Neblina, vivemos hekurapë, espíritos auxiliares dos Xamã.

 

Foto: Divulgação/ICMBio

 

 

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