Haddad Park Hotel intriga moradores de Cuiabá há três décadas; local teria boate, shopping e sauna
MidiaNews
O prédio foi projetado para ser um prédio de luxo e marcou a arquitetura da capital mato-grossese
LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO
Uma das mais imponentes e originais edificações erguidas na capital mato-grossense, que hoje completa seus 303 anos, nunca chegou a ser concluída. Há mais de três décadas despertando a curiosidade de quem passa pela tradicional Avenida do CPA, o que poucos sabem é a grandiosidade escondida atrás dos muros que o rodeiam, envelhecidos pelo tempo e cobertos de grafites.
O edifício de 45 metros em formato circular abrigaria o luxuoso Haddad Park Hotel e começou a ser a erguido em 1987. O local abrigaria uma boate de dois andares, sauna, shopping com cobertura de vidro, bar, restaurante, piscina e um auditório com capacidade para 90 pessoas.
O projeto iria oferecer o que nenhum outro prédio da época poderia em Cuiabá.
“O projeto era, modéstia parte, inteligente. Tinha todas as condições que nenhum outro prédio em Cuiabá tinha”, disse ao MidiaNews o arquiteto cuiabano Mário Gomes Monteiro, de 77 anos, autor do projeto.
Reprodução/ Arquivo pessoal
O arquiteto posando ao lado de poster do projeto em seu antigo escritório
Saudoso, Monteiro disse que esse foi um de seus melhores projetos.
“Foi o que eu mais detalhei, deu mais mão de obra, o que mais me ensinou. Porque fazer um prédio de apartamentos, você faz um e o resto é igual. Agora um hotel tem uma série de coisas que o diferenciam”, explicou.
“O projeto pronto seria muito bom e teria mais fãs do que mistério”, brincou sobre as lendas que cercam a inconclusão da obra.
Fora da caixa
Sem saber que participava de um concurso, o projeto de Monteiro venceu outros profissionais do Estado, e fora dele, por ter sido pensado “fora da caixa”.
“Nós não queríamos nada quadrado e você fez uma obra redonda”, disseram os irmãos Haddad – proprietários do prédio – ao arquiteto quando anunciaram sua vitória no então concurso.
Segundo Monteiro, existem várias categorias de hotéis de luxo, dentre elas os do centro da cidade e os de turismo. No caso do Haddad Park Hotel, como Cuiabá não é propriamente uma cidade turística, em que a vista deve se estender para a paisagem, lançou mão da possibilidade de se olhar para diferentes pontos da cidade em qualquer uma das 108 habitações.
“Eu poderia fazer prédio para que todos os apartamentos tivessem vistas diferentes, mas sempre vendo a cidade, e aí fizemos um prédio circular”, disse ele inspirado em outros projetos fora do habitual encontrados na época.
Monteiro explicou que o terreno era “relativamente pequeno” para uma construção desse porte, ao todo mil metros quadrados. Por detrás do inovador design havia uma minuciosa preocupação com a economia de espaço, iluminação e insumos, o que tornou a obra econômica. Tudo isso sem abrir mão do conforto que pretendiam oferecer aos hóspedes.
MidiaNews
O arquiteto Mário Gomes Monteiro em entrevista ao MidiaNews
O projeto que custou até o ponto concluído, cerca de 80 mil cruzados – moeda da época –, foi fiscalizado e aprovado conforme as normas da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).
O mistério continua
A pergunta que não cala: “Por que a obra nunca foi concluída?”, continuará ecoando entre as conversas de bar, fofocas entre vizinhos e comentários de quem passam em frente à edificação.
“O que está em pé foi feito com o dinheiro deles, depois disso eu não sei mais o que aconteceu. Sei que o prédio ficou parado e todo mundo pergunta se ele está para cair, se a Prefeitura foi contra”, afirmou Monteiro.
Monteiro desmente a lenda de que uma falha na estrutura teria causado o embargo da obra. Segundo ele, a edificação está em perfeitas condições e poderia ser retomada de onde parou.
“Não tem nada contra a estrutura. O que vai precisar é de dinheiro, boa vontade e enxergar o potencial da obra”, diz.
Seis irmãos de uma família turca, os Haddad, eram e ainda são, até onde se sabe, os proprietários do empreendimento. A reportagem tentou contato com a família, mas até o fechamento dessa matéria não conseguiu respostas conclusivas. Quatro deles teriam morrido nos últimos anos.
Apesar de o arquiteto torcer para ver a obra, que está com toda a parte estrutural concluída, finalizada, acha difícil vê-la inaugurada. “Gostaria muito, acho que eu soltaria até foguete”, brincou.
“Ele [o edifício] provoca e não tem solução aparente, então o pessoal fica e vai continuar inventando coisas”.
O projeto teve a participacao do arquiteto Geraldo Mendes e de um desenhista, de sobrenome Santana, que fez o cartaz com o prédio em perspectiva, ambos já falecidos.
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