Segundo a mitologia Bakairi, as flautas de taquara denominadas de TADÂWAN, foram criadas para realização do primeiro casamento da história Bakairi, o casamento entre os irmãos onças (Udodo) e as mulheres Bakairi (pekodo mondo), filhas de Kuamoty, selando uma paz e uma aliança matrimonial entre Kuamoty e os guerreiros caçadores (as onças pintadas), os inimigos dos primeiros seres da Terra.
Conforme as histórias orais do povo Bakairi, contadas e repassadas de geração para geração, afirmam que Kuamoty quando estava na mata, retirando seda de tucum, viu-se cercado pelas onças caçadoras. Para não ser devorado, Kuamoty tenta negociar uma aliança, salvando sua vida e prometendo, em troca, suas filhas em casamento aos irmãos udodo (onças). Desse modo, por interesse nas mulheres, Ikiumani (líder das onças) cedeu a proposta de Kuamoty, estabelecendo uma aliança que seria concretizada com o primeiro casamento da história Bakairi.
No entanto, Kuamoty não tinha filhas!!
Mas, por se tratar de um Ser Supremo, reconhecido e chamado pelos Bakairi de Deus, confeccionou, de madeira, os corpos de suas filhas e assoprando ar em seus corpos, deu alma e vida a suas filhas. Foram várias tentativas, até chegar a mais perfeita criação, cinco lindas mulheres que deram os nomes de Ihogue; Âpanomagalo; Axumbanalo; Numaiakaniru (ou Yukamaniru) e Ereiru – esses nomes podem variar conforme a fonte, pois cada família tem uma história, cada história tem suas versões e cada versão preserva os seus heróis.
No tempo determinado, todas a “pessoas” (seres), de todas as aldeias chegaram para a cerimônia. Primeiro foram as corujas (munguto), depois os lobos (poroho), em seguida as ariranhas (saro) e por último os irmãos onças, liderados por Ikiumani. Todos entoavam seus próprios cantos, mas quando os irmãos onças chegaram, foi impressionante. Chegaram caracterizados com suas pinturas e adornos em seus corpos tocando as flautas mágicas – TADÂWAN. Eram muito fortes e gigantescos, medindo quase dois metros de altura. Dançaram em forma circular, enfileirados e batendo os pés no chão, acompanhados dos sons de chocalhos de caroço de pequi. O conjunto harmonioso desses sons, somados ao o som extraído das taquaras, transformam em música da onça, dando assim a existência do TADÂWAN.
Dentro da casa, as mulheres prometidas em casamento, aguardavam ansiosas a chegada de seus noivos. Ao sinal de Kuamoty, os irmãos onças entram na casa e quando as filhas, uma a uma, tocam os ombros das onças, o ritual do casamento está selado e a música de TADÂWAN se mistura ao ritual de casamento.
Assim se deu origem ao TADÂWAN, no casamento das filhas de Kuamoty com os irmãos onça.
O povo Bakairi sempre teve o sonho de retomar essa prática cultural. No início dos anos 1990, o senhor Odil Apacano foi ao Xingu e trouxe exemplares das flautas numa tentativa de recuperação cultural, mas devido a questões internas não obteve bons resultados. Em 2015, o jovem Bruno Maiuca, teve na Aldeia Ipatse, do povo Kuikuro, de onde trouxe outros exemplares, mas precisava reaprender a tocar. Foi então que surgiu a ideia de trazer membros xinguanos para repassar para o povo Bakairi as técnicas de confecção e técnicas de como tocar, um verdadeiro intercâmbio cultural. Através das amizades criadas pelo jovem Bruno, tivemos a visita de dois irmãos xinguanos: Talyco Kalapalo e Yamalui Kuikuro, que não somente ensinaram os jovens Bakairi, como fizeram uma entrega simbólica das flautas, dizendo e reconhecendo que as flautas são do povo Bakairi, que eles simplesmente eram guardiões, que realizam belas e grandiosas festas, mas não sabem a história de origem e que hoje estão realizando a entrega simbólica das flautas TADÂWAN.
Essa entrega foi realizada através de uma grande festa cultural, reunindo toda a comunidade da Aldeia Pakuera, seu cacique Genivaldo Poiure e visitantes governamentais, como o vereador municipal Edson Agripino e o Secretário Adjunto da Secretaria Estadual de Agricultura Familiar, Clóvis Figueiredo. Sem dúvida um marco na história do povo indígenai da Aldeia Pakuera, a capital do povo Bakairi
A Empaer MT está presente na etnia Bakairi na Aldeia Pakuera, desenvolvendo várias cadeias produtivas agricultura familiar e também valorizando a cultura e propiciando a visitação turística em Etnoturismo Indígena.
Galeria de Fotos :
Por Magno Amaldo da Silva, professor Bakairi, Graduado em Economia e Matemática, pós graduação em Educação Escolar Indígena e em Educação Ambiental.
Agradecemos pela postagem e divulgação, belo trabalho de resgate cultural do povo Bakairi. Viva a cultura, viva os povos indígena do Brasil
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