INTRODUÇÃO
É o presente um
esboço de um projeto turístico/cultural/religioso, com a finalidade de resgatar
a viagem de N. Senhora de Santana do Sacramento, padroeira de Chapada dos
Guimarães, feita em 1779, do Porto Geral de Cuiabá até a Igreja de Santana na
cidade mencionada.
Percorrendo
novamente os caminhos em demanda à Chapada, 230 anos depois, colocaríamos uma
nova rota turística e religiosa,à disposição de turistas e fiéis refazendo a trilha percorrida no século XVIII
pela imagem de Santana ao ser entronizada em sua Igreja chapadense.
Teria semelhanças
conceituais com o Caminho de Santiago de Compostela. Seria uma trilha
turística/religiosa em pleno Mato Grosso, no centro geodésico da América do
Sul.
HISTÓRICO
Joaquim
da Costa Siqueira, vereador em Cuiabá em fins do século XVIII, assim registrou
em seu trabalho Compêndio Histórico
Cronológico das notícias de Cuiabá, repartição da Capitania de Mato Grosso,
desde o princípio de 1778 até o fim de 1817, publicado em 1872 pela Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, contando brevemente sobre a
construção da Igreja e seu financiador o Dr. José Carlos Pereira, Juiz de Fora de
Cuiabá e Ouvidor Geral da Capitania de Mato Grosso:
1779
– N´este anno erigiu o Dr. José Carlos Pereira, na missão de Santa Anna da
Chapada uma Igreja que servisse, como serve, de matriz d´aquella freguesia, em
cujo trabalho empregou o seu desvelo, a sua fadiga, o seu cuidado e muita parte
de sua fazenda, e de facto no dia 31 de julho se benzeu a nova igreja pelo Rev.
Vigario da vara d´esta villa José Corrêa Leitão, que também celebrou missa.
(...)
No
dia seguinte, 1º de agosto, se fez solemne missa a Santa Anna, orago d´aquella
freguesia, com a maior pompa e grandeza que jamais ali se viu, tanto pelo que
toca ao divino como também ao profano.(Siqueira,1872, p.8)
Por
outro lado, os Annaes do Sennado da
Camara do Cuyabá, um cronológico colonial registrando os fatos anuais
ocorridos na vila de Cuiabá, relatando o ano de 1779, assim registrou o mesmo
fato:
Por
ocasião de certa diligencia do Real serviço havia passado em novembro do anno
próximo a Missão de Santa Anna o Doutor Juiz de Fora desta Villa Jozé Carlos
Pereira. Teve ele então a ocasião de ver a palhossa indecentíssima em que se
celebravão o Santo Sacrificio do altar e mais Divinos ofícios, e o mais hé, que
servia de Matris,(Annaes,
2007,p. 113)
Continuando
os Annaes, comentam o fato do Ouvidor
Pereira ter mandado comprar e trazer do Rio de Janeiro a imagem da Santana,
inclusive fazendo uma breve descrição da mesma:
Impondosse
a aquella nova Igreja o nome invocação de Freguesia de Santa Anna do Sacramento
, em cuja contemplação mandou depois o devoto Ministro vir do Rio de Janeiro
huma nova imagem da Santa com cinco palmos de alto com a menina ao lado
esquerdo e na mão direita huma custódia de prata dourada, para nella se expor o
Santissimo Sacramento (...).(Annaes, 2007, p. 115)
Os
Vereadores de Cuiabá, que por décadas anotaram fatos, datas e personagens dessa
então vila, mencionaram um fabulosa procissão, vinda de Cuiabá, com a
finalidade de conduzir sob um pálio a imagem para a nova Igreja recém
inaugurada, e registraram também a chegada dessa procissão na freguesia de
Santana de Chapada:
Além
dos muitos toques dos sinos com que se aplaudio esta grandioza procissão,
houverão muitos de trompas, clarins, caixas de guerra e outros mais
instrumentos, assim como também muitos tiros de roqueira (...). (Annaes, 2007,
p.115)
E
continuando os Annaes:
A
procissam não somente foi acompanhada dos homens de toda a qualidade, como tão
bem das pessoas do sexo feminino da primeira nobreza da terra logo atrás do
pálio que continuadamente hião derramando lágrimas de gosto, sucesso que tão
bem aconteceo aos mesmos homens.
No
dia seguinte primeiro do mês de agosto, em que rezava a Igreja da sua
dedicação, se fez a solenidade da dedicação da nova de que se trata a Senhora
Santa Anna do Sacramento pelo nosso reliugiozissimo ministro que assistio
banhado em lagrimas
(Annaes, 2007, p. 115)
Assim,
a imagem de Santana do Sacramento, adquirida no Rio de Janeiro, foi levada até
São Paulo, depois à vila de Araritaguaba, seguindo pelo caminho fluvial das
monções até o Porto Geral. Nesse local, foi depositada provisoriamente numa
capela a que a história não registrou o nome. Pode ser algum mero rancho a
título de capela no Porto Geral, no local onde, no ano seguinte, o próprio Dr.
José Carlos Pereira, edificou uma capela orago de São Gonçalo. Sobre esta,
assim nos registrou o vereador Joaquim da Costa Siqueira:
1780 – Como o Dr. José Carlos Pereira, além da obra da Igreja de Santa Anna também projectou construir junto ao Porto d´esta villa uma capella a São Gonçalo, visto que se achava de todo destruída a capella velha que fora erecta nas margens do rio Coxipó nos princípios do descobrimentos d´estas minas, de facto pôz em execução o seu intento e na segunda oitava da paschoa da ressurreição se lança a primeira pedra, fazendo-se esta acçãoemo todas as ceremonias que decreta o ritual romano.(Siqueira, 1872, p.10)
A MISSÃO JESUÍTICA DE SANTANA
A Missão Jesuítica
de Santana de Chapada foi instituída pela Companhia de Jesus e fundada pelo
padre Estêvão de Castro em 1751. Assim nos contam os Annaes:
Havia
sido naquela freguesia fundada tam somente em Missão de Indios no anno de 1751
por Ordem Regia pellos padres da Companhia de Jesus chamado Estevão de Castro e
Agostinho Lourenço, que para este fim tinham vindo na comitiva do Capitão
General desta Capitania Antonio Rolim de Moura (...) e a sua fundação não foi no lugar em que
hoje se acha e sim na paragem chamada hoje de Aldeya Velha, distante da nova
que tratamos, meya légua para a parte desta Villa, que por não ser suficiente,
a mudarão depois para o em [local] que
de prezente se acha;
(...) Cuidarão
os ditos padres em edificar para a sua assistencia propriedadecuberta de telha
mas não praticaram o mesmo na caza de Deos e só lhe prepararão a palhosa de que
temos falado, em que armarão hum altar, que forrarão de papeis pintados onde
collocarão a Senhora Santa Anna como no orago do meio e nos lados Sam Ignacio
de Loyola e Sam Francisco Xavier. (Annaes, 2007, p. 114)
Com a retirada dessa primeira Santana, levada pelos jesuítas para uma capela de palha, a nova Igreja de Santana construída pelo Ouvidor, passou a contar com duas Santanas, uma jesuítica e outra vindo do Rio de Janeiro.
O CAMINHO
Só podemos fazer
conjecturas acerca do caminho percorrido pelos devotos de Santana do
Sacramento, conduzindo a imagem em 1779, do Porto Geral até a povoação de Santa
Ana de Chapada.
Saindo do Porto,
atravessou a vila de Cuiabá por uma das rotas que demandavam Chapada. Nos
contrafortes da serra, subiu a procissão por uma das 14 “escaleiras” no dizer
de José Barnabé de Mesquita, até o alto da mesma. Já nos campos de cima da
serra, em pouco tempo atingiu a povoação de Santana de Chapada.
Na povoação a
imagem da santa foi recebida por todas as honras oficiais e cerimônias
religiosas e devidamente entronizada na Igreja Nossa Senhora de Santana do
Sacramento, da qual é a padroeira.
Nesse momento essa Igreja passou a ter duas Santanas, uma vinda do Rio de Janeiro e outra transferida da antiga Missão Jesuítica do padre Estêvão de Castro.
OS OBJETIVOS DO PROJETO
A implantação do Projeto Caminho de Santana, têm três objetivos primordiais:
1-HISTÓRICO – Permitir a divulgação da
história de Mato Grosso, em especial a de Chapada, no tocante à construção da
Igreja de Santana, da participação e importância do Juiz de Fora e Ouvidor
Geral Dr. José Carlos Pereira, costumes sociais e religiosos da sociedade
mato-grossense de fins dos séculos XVIII dentre outras abordagens;
2-RELIGIOSO – Divulgar a construção da
Igreja e o trabalho de um homem profundamente religioso, o seu construtor José
Carlos Pereira, a mensagem religiosa de N.S. de Santana para toda uma povoação
e ainda a devoção de toda uma população chapadense e cuiabana à referida Santa.
Uma vez por ano, ou mais, poderá haver uma procissão entre Cuiabá e Chapada ressaltando
tão somente o aspecto religioso de tal solenidade. A procissão sairia de Cuiabá
nas antevésperas do Dia de Santana, chegando em Chapada nesse exato dia, em que
se comemoram a data religiosa de sua padroeira.
3-TURÍSTICO – Obviamente o Caminho de Santana será, nos moldes do caminho de Santiago de Compostela, será também turístico, atraindo não só devotos de Santana, mas de pessoas que queiram percorrer a pé a distância entre Cuiabá e Chapada, cortando cerrados, matas, córregos, cachoeiras e serras. Seria realizado em grupos turísticos ou viajantes solitários, tendentes às reflexões necessárias para a vida.
DA IMPLANTAÇÃO DO CAMINHO
Numa
primeira abordagem efetuada em 2009, pela Secretaria Estadual de Cultura, foi
realizada reunião em Chapada, na presença dos párocos dessa cidade e da Igreja
de São Gonçalo, de Cuiabá. Os dois acordaram e se prontificaram a auxiliar no
que estivessem ao alcance das referidas paróquias.
Esteve
presente também o Dr. Jurandir Spinelli, que todos os anos realiza uma
Cavalgada de Cuiabá à Chapada.
Obviamente há que se definir:
Recursos financeiros para estudos mais
profundos do roteiro e estruturas físicas;
Pontos de parada com almoço/lanches e de
pouso para pernoite;
Ponto de subida da serra;
Convencimento de proprietários rurais para
autorização de passagem e pouso;
Outras estruturas mais
RECURSOS FINANCEIROS
Basicamente os
recursos financeiros serão para a implantação do referido projeto e sua
posterior divulgação.
Verbas governamentais podem ser obtidas no Ministério do Turismo, Ministério da Cultura, Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Turístico de Mato Grosso e Prefeitura Municipal de Chapada dos Guimarães.
ORGANIZAÇÃO
A
organização do Caminho de Santana deverá ser efetuada por uma comissão composta
da Prefeitura Municipal de Chapada dos Guimarães, Prefeitura Municipal de
Cuiabá, Paróquia de Santana de Chapada, Paróquia de São Gonçalo, e ainda
organizada e executada por associação que cuida atualmente das cavalgadas
anuais Cuiabá-Chapada, por realizaram essa festividade há décadas e seus
diretores conhecerem profundamente as várias possibilidades de trajeto para
melhor realização do referido Caminho de Santana.
EXECUÇÃO
Definida a organização, a execução poderia caber à alguma OSCIP ou OS de caráter turístico ou cultural, que através contrato de gestão, prepararia os projetos, obteria os recursos, faria a implantação e a gestão do Caminho de Santana.
FINALMENTE
O
Caminho de Santana não só resgata uma tradição histórica, cultural e religiosa
para a memória social mato-grossense, como desperta e amplia a convicção
religiosa das pessoas que se dispõem a concretizar essa caminhada/procissão
serra acima.
E um roteiro turístico de primeira ordem, que sem dúvida, despertará turistas e devotos para essa caminhada. Será considerado um caminho turístico-religioso, que sem dúvida trará dividendos financeiros e religiosos para a população de Chapada e para as paróquias envolvidas.
Cuiabá, 19 de março de 2011.
PAULO PITALUGA COSTA E SILVA
BIBLIOGRAFIA
Annaes do Sennado da Camara do Cuyabá. Cuiabá: Arquivo Público, 2007
MESQUITA, José Barnabé de. A Chapada Cuiabana. Cuiabá: UFMT, 1975
SIQUEIRA, Joaquim
da Costa. Compêndio Histórico Cronológico das notícias de Cuiabá, repartição da
Capitania de Mato Grosso, desde o princípio de 1778 até o fim de 1817. In:Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Mato Grosso. Rio de Janeiro: v.13, 1872
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