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- Safira Campos
O desmatamento crescente na região amazônica, impulsionado principalmente pela expansão de monoculturas e da pecuária, pela ampliação da malha rodoviária e pela instalação de hidrelétricas, é considerado uma das principais ameaças aos primatas em risco de extinção em Mato Grosso. É o que revela o Plano de Ação Nacional para a Conservação (PAN) dos Primatas Amazônicos, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Conforme explica o documento, os impactos desses empreendimentos geram consequências biológicas, sociais e culturais irreparáveis para diversas espécies. “Os impactos decorrentes da migração de trabalhadores e de pessoas em busca de oportunidades acabam por aumentar significativamente a população local, a expansão urbana desordenada, a exploração dos recursos naturais e, consequentemente, a caça”, afirmam os pesquisadores.
O primeiro ciclo do plano, que esteve em vigor até o ano passado, apontou que quatro espécies de primatas estão seriamente ameaçadas em Mato Grosso. De acordo com o PAN, que tem como objetivo reduzir ou mitigar as ameaças à fauna em risco de extinção, o coatá-de-testa-branca, também conhecido como macaco-aranha, está em uma das situações mais críticas. No estado, essa espécie, que corre um risco muito alto de extinção na natureza, pode ser encontrada no Parque Estadual do Cristalino.
Segundo o ICMBio, a espécie sofreu um declínio populacional de pelo menos 50% ao longo de 45 anos. Sua área de ocorrência coincide com a região conhecida como arco do desmatamento, considerada por ambientalistas como crítica na Amazônia, onde a floresta sofre intensa pressão de desmatamento, principalmente devido à pecuária e à monocultura de soja. O “arco” abrange áreas que vão do norte do Maranhão até o Acre, passando por Mato Grosso, Rondônia e sul do Pará.
Além do coatá-de-testa-branca, o PAN destaca outra espécie de primata em grande perigo no estado: o macaco-barrigudo, cuja primeira catalogação foi em 1812. O ICMBio suspeita que a espécie vem sofrendo uma redução populacional de pelo menos 30% em três gerações, cerca de 45 anos. “Essa redução tem ocorrido em decorrência da intensa caça, inclusive em Terras Indígenas”, aponta o órgão.
Há ainda outras duas espécies ameaçadas, embora em situações menos graves. Entre elas está o guariba-de-mãos-ruivas, classificado como “vulnerável”, ou seja, com elevado risco de extinção na natureza em um futuro próximo, caso as condições que ameaçam sua sobrevivência e reprodução não melhorem.
Em Mato Grosso, essa espécie tem registro de ocorrência na RPPN Lote Cristalino, no município de Alta Floresta (a 790 km de Cuiabá). Ela foi considerada vulnerável à extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (2008) e pela Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção (2014). Na mesma situação encontra-se também o macaco-aranha-da-cara-preta.
Execução do PAN
Realizado entre 2017 e 2023, o primeiro ciclo do PAN dos Primatas Amazônicos não alcançou todas as metas traçadas. Pesquisadores envolvidos no projeto apontam que o período foi marcado por um cenário desfavorável para o meio ambiente, com políticas públicas que não priorizaram a Amazônia. Entre os fatores que limitaram o sucesso do PAN estão a redução da representatividade ambiental no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a paralisação na criação de Unidades de Conservação (UCs), a falta de renovação de recursos humanos e cortes em bolsas e financiamentos para projetos.
Além disso, a desmobilização social das comunidades amazônicas e o aumento da pressão sobre os recursos naturais intensificaram os desafios. O período também registrou uma elevação nos focos de incêndios florestais, o que agravou a perda de habitat e colocou em risco a sobrevivência dos primatas amazônicos.
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