Por Isadora Camargo
São Paulo No mercado financeiro, uma injeção de capital via um fundo de investimento pode render lucros e novos ativos para o serviço agropecuário. No café arábica, esse aporte pode vir das abelhas e gerar um cenário semelhante de lucratividade por meio de polinização assistida. A técnica das abelhasaumenta a produtividade em 16,5% por hectare e pode elevar a receita anual do café arábica em até R$ 22,43 bilhões. MAIS SOBRE CAFÉ
Em detalhes, o impacto significativo no valor de mercado calculado por pesquisadores foi: o preço da saca de café chegaria a R$ 2.014,90, aumento de 13,15%. No total, o mercado cafeeiro brasileiro saltaria dos atuais R$ 70,490 bilhões para R$ 92,919 bilhões, até que alcançasse a lucratividade que o estudo cita de R$ 22,43 bilhões.
“A nota sensorial da bebida aumentou em 2,4 pontos”, diz a Embrapa, em nota científica divulgada na quarta-feira (30/10).
A classificação de grãos passou de regulares para especiais em algumas fazendas, agregando valor ao produto. “O salto de qualidade elevou o valor da saca em 13,15%, o que representa um ganho de US$ 25,40 por saca”, informou a entidade.
A coordenação da pesquisa ficou nas mãos dos cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil em fazendas de café com sistema convencional de plantio, e não o regenerativo que já costuma utilizar abelhas, inclusive para a produção de mel de café, um subproduto de valor agregado para o produtor.
A pesquisa debate o fato de que a polinização assistida pode gerar impactos econômicos significativos na cafeicultura, tornando o manejo de abelhas uma “ferramenta poderosa para melhorar a rentabilidade dos cafeicultores”, enfatizou o estudo.
Os cientistas monitoraram, ainda, a saúde das colônias de abelhas nativas sem ferrão expostas a um dos inseticidas sistêmicos mais utilizados no controle de pragas da cultura, o tiametoxam. Colaboraram para o estudo a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a AgroBee, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Natural England e a Eurofins.
As abelhas africanizadas desempenharam um papel crucial na melhoria dos resultados. “A introdução das colmeias não só aumentou a quantidade de grãos por hectare, como também influenciou positivamente a qualidade do produto final. O aumento da nota sensorial, que leva em consideração características como sabor e aroma, permitiu que parte da produção alcançasse o status de café especial, um mercado com valor agregado substancialmente maior”, acrescentou a Embrapa.
Para Cristiano Menezes, pesquisador da entidade e um dos líderes do estudo, esses resultados mostram o potencial da integração entre o manejo de polinizadores e a cafeicultura de larga escala. "O uso de abelhas manejadas demonstra uma clara oportunidade de ganho econômico, ao mesmo tempo em que contribui para uma agricultura mais sustentável e eficiente", afirmou.
Com base nos dados do estudo, os pesquisadores calcularam que, se todos os cafeicultores brasileiros adotassem a tecnologia de polinização assistida, a produção de café no País poderia ser transformada. Considerando os resultados da pesquisa e os valores atuais estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a produção cafeeira em 2024, haveria um aumento de 16,5% na produtividade com a presença das abelhas, o que representaria 6,5 milhões de sacas adicionais, elevando a produção total para 46,1 milhões de sacas.
Produtor garante eficácia
O produtor rural Gustavo José Facanali, da Facanali Cafés, cultiva 120 hectares em São Paulo e no sul de Minas e inicialmente duvidava da eficácia da técnica, uma vez que a flor do café se autofecunda em mais de 80%.
Na propriedade, foram utilizadas abelhas-sem-ferrão da espécie Mandaguari, introduzidas sete dias antes da floração e mantidas na lavoura por 21 dias. "Durante esse período, não fizemos intervenções na área, o que facilitou o manejo", conta.
Além do aumento na quantidade, a pontuação da bebida subiu de 78-80 para 82 pontos. "Estamos vivendo um clima instável, que tem gerado perdas na produtividade. A polinização assistida pode ser um contraponto a esses desafios, ajudando a manter a rentabilidade com sustentabilidade", argumentou